No Brasil, desde 2015, o Setembro Amarelo marca um mês inteiro de mobilização pela saúde mental. Mais do que reforçar a importância do tema, a campanha busca incentivar conversas abertas e fortalecer redes de apoio para quem enfrenta sofrimento emocional.
De acordo com uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo, número que pode ultrapassar um milhão, considerando as subnotificações. No Brasil, a média é de 14 mil casos por ano.
Em setembro de 2025, a OMS informou que os suicídios representam uma morte em cada 100 no mundo e lamenta a falta dos avanços registrados contra uma das principais causas de morte entre os jovens. Mais de um bilhão de pessoas sofrem com transtornos de saúde mental, sendo os mais comuns deles a ansiedade e a depressão, e o suicídio segue sendo uma das principais consequências desses transtornos.
Mas a prevenção é possível, e esse é o ponto central da campanha. Para a especialista em suicidologia, Isabele Trindade, de Suzano, o foco deve estar em “quem está aqui, hoje” e em como a sociedade pode acolher.
“Prestar atenção no outro, ouvir sem julgar, sem dar receitas prontas de soluções, porque não existe um caminho único para todos. A primeira atitude é deixar a pessoa se expressar, mostrar que você está presente, atento e preocupado”, explica.
Entre os sinais de alerta em adultos, Isabele cita mudanças na rotina, desânimo e afastamento de atividades antes prazerosas. Em jovens, além desses sinais, os indícios podem aparecer nos espaços virtuais, como redes sociais e grupos de conversa.
“De 15 a 29 anos é o grupo que mais morre por suicídio entre todas as faixas etárias. Precisamos dar atenção à forma como eles se comunicam e se apresentam. Nem sempre as palavras vão traduzir o sofrimento; muitas vezes, ele se expressa no comportamento. O desafio está em reconhecer também a comunicação não verbal. Adolescentes e jovens acabam sendo mais difíceis de alcançar porque, muitas vezes, manifestam suas emoções em espaços nos quais os adultos não circulam”, destaca.
A especialista lembra ainda que familiares próximos podem não perceber a gravidade justamente pela proximidade afetiva.
“É essencial que a rede de familiares e amigos esteja atenta. O vínculo afetivo permite perceber a tristeza e o sofrimento, mas, muitas vezes, é inimaginável para quem ama acreditar que aquela pessoa querida possa tentar o suicídio. O amor, por si só, nem sempre consegue enxergar a gravidade dos sinais”, disse.
Além do Centro de Valorização da Vida (CVV), que atende gratuitamente pelo número 188 em qualquer hora do dia ou da noite, existem os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e unidades de saúde que acolhem e orientam sobre os primeiros passos para o tratamento. Segundo Isabele, o apoio de familiares e amigos é fundamental nesse processo.
“Para alguém chegar ao pensamento suicida, percorreu uma trajetória de vivências e dores. Por isso, vai precisar de pessoas que caminhem junto durante o tratamento, com apoio e incentivo em cada etapa. Reconhecer os riscos, ouvir sem julgar e estar presente é parte essencial desse cuidado especializado”, afirma.
Mais do que um mês de mobilização, o Setembro Amarelo reforça que falar de saúde mental deve ser rotina em todos os espaços da sociedade.
“Precisamos reformular o Setembro Amarelo no Brasil. É necessário aprender a dialogar com cada grupo etário de forma adequada e saudável. O movimento não deve se limitar à lembrança do tema durante um mês, mas tornar-se parte das conversas cotidianas, em todos os ambientes e durante todo o ano”, conclui a especialista.