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“Surto Psicótico: entenda tecnicamente se isso pode explicar o caso da tornozeleira”, por Doutor Jorge Abissamra Filho

O recente episódio envolvendo a tentativa de danificar uma tornozeleira eletrônica trouxe de volta ao debate público uma pergunta recorrente em situações de comportamento incomum: é possível que um ato assim tenha sido causado por um surto psicótico ou por efeito medicamentoso?
Este texto busca discutir o tema de forma estritamente técnica, sem juízo político ou diagnóstico a distância.

O que caracteriza um surto psicótico?

Um surto psicótico ocorre quando há perda parcial ou completa da capacidade de avaliar a realidade. O indivíduo pode apresentar:

  • Delírios (crenças falsas, não compartilhadas pelo grupo)
  • Alucinações Ações impulsivas ou inadequadas
  • Comportamento aparentemente “planejado”, porém, com motivação distorcida
  • Juízo prejudicado
  • Desorganização do pensamento

Importante: o senso comum costuma imaginar o surto como algo caótico, mas pacientes podem executar ações complexas, como dirigir, manipular objetos ou destruir equipamentos, mesmo sob intensa alteração mental.

Medicamentos podem causar ou precipitar surtos?

Sim. Diversos fármacos têm potencial de desencadear mudanças repentinas de comportamento ou perda temporária de julgamento, especialmente em uso inadequado, doses altas ou suspensão brusca:

  • Corticoides: amplamente documentados como gatilho de “psicose esteroidal”, com agitação, impulsividade e delírios.
  • Benzodiazepínicos: abstinência pode gerar confusão, irritabilidade e desorganização.
  • Antidepressivos: podem precipitar mania ou hipomania em indivíduos predispostos.
  • Estimulantes e anfetaminas: podem causar psicose tóxica.
  • Polifarmácia: interações entre medicamentos são um dos maiores gatilhos de alteração cognitiva aguda.

Portanto, do ponto de vista clínico, é plausível que um comportamento arriscado tenha relação com efeito medicamentoso ou surto.

Durante um surto, a pessoa pode lembrar do que fez?

Sim. A memória pode se manter preservada dependendo do tipo de episódio:

  • Surto psicótico típico: o indivíduo pode lembrar da ação, mas não da motivação delirante
  • Quadro maníaco: a lembrança geralmente é completa, embora o julgamento esteja alterado durante o episódio
  • Delirium, intoxicação ou dissociação: podem gerar amnésia parcial ou total.

Ou seja: ter tido um surto não exclui a possibilidade de lembrar o ato — inclusive com detalhes.

Alterações psiquiátricas e capacidade de liderança

Aqui, a análise deve ser universal, sem vincular qualquer nome específico a diagnósticos que não foram estabelecidos clinicamente.

A psiquiatria é clara:

  • Episódios psicóticos recorrentes, não tratados ou mal controlados podem comprometer seriamente a capacidade de julgamento, tomada de decisões, controle emocional e avaliação de risco, habilidades essenciais para qualquer liderança de alta responsabilidade, incluindo chefes de Estado.
  • Episódios isolados, bem avaliados e tratados, tendem a não comprometer a funcionalidade plena.
  • A capacidade de exercer funções complexas depende menos do diagnóstico em si e mais da estabilidade clínica e do tratamento adequado.

Do ponto de vista médico, é possível que comportamentos impulsivos e de risco — como danificar um equipamento eletrônico judicial — ocorram durante um surto psicótico ou por efeitos colaterais de medicamentos.

É igualmente possível que o indivíduo lembre do que fez.
Quanto à aptidão para funções de alta responsabilidade, a medicina reforça:

Pessoas com surtos recorrentes não controlados têm prejuízo relevante na capacidade de liderança. Já indivíduos com episódios isolados e tratados podem manter plena competência funcional.
A avaliação definitiva sempre exige exame clínico presencial — e não pode ser inferida apenas pelo comportamento visível.

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal HojeDiario.com).