Existem muitas formas de violência que podem atingir pessoas, produzindo sequelas que acabam por ser incorporadas na vida delas até sabe-se lá quando. Isso, se deixam de existir, pois, no mais, seguem produzindo estragos físicos e mentais. Muitas pessoas sequer conseguem seguir vivendo com um mínimo de qualidade. Há entre elas aquelas que determinam contra si próprias a pena capital.
Entre as que sobrevivem restam heranças emocionais que são passadas às gerações seguintes, de forma a aumentar cada vez mais doenças aparentemente desconexas da realidade da pessoa, que somente são encontradas matricialmente quando postos à disposição serviços da área da saúde mental. Essas reflexões não são frutos de um trabalho acadêmico sobre o qual eu me debruce, são elementos trazidos a partir da forma como percebo as relações que ocorrem próximas ao meu dia a dia.
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Portanto, não será possível encontrar aqui algo assentado em base científica metodologicamente confirmada. São impressões a partir de minhas inquietações mais profundas. Quando trato da questão da violência em suas mais variadas formas é porque em muitos casos ela não é notada como tal. Não são apenas as agressões físicas que desorientam ou matam uma pessoa. Há, sobretudo, aquelas de natureza psicológica muito notada em nosso cotidiano, mas há, cada vez mais, aquele tipo que se apresenta através dos meios digitais, e este pode ser tão poderoso que acaba por ser inoculado de forma muitas vezes imperceptível.
Está cada vez mais presente a forma da ofensa, da agressão gratuita e da desmoralização de pessoas cuja base motivacional se assenta na pregação do ódio como meio de relacionamento. E o diabo nisso tudo se encontra não nos detalhes, mas na causa central. Ou seja, ser violento na forma digital passa a ser um estilo de vida padrão para um número cada vez mais crescente e assustador de pessoas. Muitos estudos demonstram substancialmente a presença dessas práticas no âmago das táticas da extrema direita, esse ambiente altamente tóxico organizado nos subterrâneos de nossa existência enquanto sociedade, e que emerge como conjunto político.
A internet acabou por permitir a propagação dos modelos de ciência do ódio inclusive a partir de ambientes verdadeiramente inócuos, sem intencionalidade irracional. Desde emitir uma opinião sobre uma modalidade esportiva, passando pela inclinação que alguém possa ter a respeito de uma forma de vida, até alcançar o posicionamento político individual ou coletivo – natural em uma democracia – tudo pode virar alvo de agressões. A centralidade do comando parece se esconder na estratégia do silenciamento, ou seja, calar a opinião oposta por mais simples que seja. E quando essa estratégia não alcança os objetivos propostos, o extermínio físico passa a ser uma opção.
Por não gostar de uma pessoa negra alguém se sente no direito até de matá-la. Por instruir suas opiniões supostamente originárias de textos sagrados, há quem pregue o extermínio como solução final. E a turba segue o líder sem questionar o que com isso ela acaba fazendo. Os arrependimentos históricos são insuficientes para deixar de lado os horrores praticados em nome de determinadas ideologias extremistas.
“Matar como sendo o jeito mais simples de ser a única voz da sala” (Rebecca Solnit), não serve apenas para os infinitos casos de violência contra a mulher, embora o sejam em profusão. A ideia serve também para calar as muitas vozes políticas dissonantes. Vivemos sob a pandemia do ódio e ela não foi decretada pela Organização Mundial da Saúde, como no caso da covid-19. Porém, se não for reconhecida como tal, gerará cada vez mais ameaça ao bem estar físico e mental de um número cada vez maior de pessoas espalhadas pelo mundo.
Nosso grande desafio será conter o crescimento da violência do ódio e não deixar espaços para que essa prática siga sendo a essência da vida de muitas pessoas. E faremos tudo isso com muito amor!
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)