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“Prioridade”, por Marco Tanoeiro

Na semana em que o Alto Tietê superou a marca oficial de 1.000 mortes por Covid-19, uma notícia amplamente divulgada pela imprensa e pelas redes sociais merece destaque. Trata-se de um plano de pavimentação a ser implementado na cidade de Suzano, a um custo estimado de R$ 40 milhões. A cidade, bom lembrar, contabiliza cerca de 20% das mortes por Covid no Alto Tietê.

Sob a ótica da gestão pública consciente e responsável, necessária em tempos de pandemia, inevitável questionarmos se esse é o momento para tal investimento. De onde quer que se olhe para a cidade de Suzano – e isso se estende para todo o Alto Tietê – a resposta prudente nos parece ser uma só: NÃO! Definitivamente, não é o momento para um investimento tão alto em pavimentação, considerando uma cidade de 300 mil habitantes e R$ 908 milhões de orçamento anual.

O israelense Yuval Noah Harari, ph.D. em História pela Universidade de Oxford, publicou em 15 de março de 2020, no site da Revista Time, um artigo intitulado “In The Battle Against Coronavirus, Humanity Lacks Leadership”. No Brasil, o texto foi editado pela Companhia Das Letras, sob o título “Na Batalha Contra o Coronavírus, Faltam Líderes à Humanidade” e pode ser lido sem custo algum nas plataformas digitais.

No texto, Harari defende que durante uma pandemia como a que vivemos, o isolamento social deve existir apenas de forma física, para impedir a propagação do vírus. No entanto, estrategicamente, líderes e populações, de forma global, devem manter uma perfeita sintonia de intenções e de ações, para que a sensação de desamparo não tome conta da sociedade. Deve-se abandonar, portanto, a lógica da “farinha pouca, meu pirão primeiro”.

Suzano é uma cidade rica com uma população pobre. Apesar dos Poderes locais administrarem uma receita superior a R$ 900 milhões anuais,  conforme já citamos, dados oficiais do IBGE mostram que apenas 20% da população possui alguma ocupação. A renda per capita de 40% dos suzanenses é menor que 1/2 salário mínimo. Nosso índice de Desenvolvimento Humano é apenas mediano. Vale dizer que esses dados são anteriores à pandemia.

Nesse contexto é que o Prefeito resolve gastar R$ 40 milhões em asfalto.

Tomando como base o valor de R$ 600,00 do Auxílio Emergencial pago pela União, temos que em vez de asfalto o Prefeito de Suzano poderia criar, por exemplo, um programa municipal capaz de contemplar mais de 13.300 famílias até o final do ano. Seriam mais de 52.000 pessoas atingidas diretamente. Na verdade, a cidade toda ganharia.

Fazendo isso, numa cidade que não possui um leito sequer de UTI para as vítimas da Covid-19, o Prefeito mostraria à população  que estamos juntos nessa crise. Estaria dando condições ao povo para que ficasse em casa, com segurança, cuidando de suas crianças e idosos, sem medo, sem passar sede ou fome.

Menos gente nas ruas, menos gente doente, menos mortes e menos tristeza. Aí sim estaríamos pavimentando um bom caminho para uma sociedade mais justa e um futuro mais humanizado.

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site HojeDiário.com)