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“Fome”, por Marco Tanoeiro

Dez milhões e trezentas mil pessoas.
Essa é a população estimada de países como Grécia, Suécia e Portugal.
O dobro da população de Dinamarca, Finlândia, Noruega e Costa Rica.
Três vezes a população do Uruguai. 
Dez milhões e trezentas mil pessoas.
População superior às cidades de Londres, Tokio, Lima e Nova York. Quase a população de Pequim, Istambul, Moscou e São Paulo.
Dez milhões e trezentas mil pessoas. Pense nesse número.

Enquanto escrevo esse texto que você agora está lendo, cerca de dez milhões e trezentas mil pessoas passam fome no Brasil. Muita fome. Fome extrema.
Mas como no Brasil nada é tão ruim que não possa piorar, esses números são de 2018, só agora divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

Segundo o instituto, depois de recuar consideravelmente a partir do ano de 2004, a fome voltou a se espalhar pelo Brasil. Em cinco anos, aumentou em cerca de 3 milhões o número de pessoas sem acesso regular à alimentação básica, chegando a 10,3 milhões de pessoas. No mínimo.

E somente entram nessa conta os moradores em domicílios permanentes. Ou seja, estão excluídas do estudo as pessoas em situação de rua, o que aumenta ainda mais o rastro da fome pelo país.

Tecnicamente, estudos desse tipo classificam como segurança alimentar o acesso pleno e regular aos alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer outras necessidades essenciais. 

Ou seja, uma família em situação de segurança alimentar é aquela em que todos os seus membros se alimentam bem, todos os dias, sem que isso comprometa moradia, vestuário, lazer, cultura, educação…

Pois bem, esse índice de segurança alimentar atingiu o menor patamar em 15 anos. Isso significa que há 15 anos não tínhamos tanta gente passando fome em nosso país. Isso é muito grave.

A série histórica de estudos do IBGE mostra que a maior cobertura da segurança alimentar foi registrada em 2013, quando em 77,4% do total de domicílios a alimentação podia ser considerada como plena e regular. Os números atuais mostram que essa cobertura caiu 71,5%.

Resumindo, a fome, situação de insegurança alimentar grave, é hoje a realidade vivida nos lares de pelo menos dez milhões e trezentos mil brasileiros. É um número pra se pensar.

Nesse ponto do texto a leitora e o leitor já devem ter percebido que retrocedemos em cinco anos tudo aquilo que já tínhamos avançado em quinze.

Ao deixarmos o mapa da fome extrema no Mundo, em 2013, pensávamos ter consolidado um modelo de política pública ideal para nosso país. A erradicação da fome era algo palpável. Ilusão.

A fome voltou com força total, fruto de múltiplos fatores que, infelizmente, não cabem num artigo. Fica a reflexão.

Dez milhões e trezentas mil pessoas… e contando…

(Esse texto não expressa, necessariamente, a opinião do site HojeDiário.com)