PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

“Drogas: do silêncio da entrada aos gritos de desespero na saída”, por Felix Romanos

Neste artigo procuro apontar a entrada silenciosa das drogas na esfera das amizades, as características de comportamento do usuário no desenvolvimento da dependência química, até os gritos ensurdecedores das famílias dilaceradas por suas consequências.

Embora cada história seja singular, há semelhanças que podem servir de alerta para os leitores dessa coluna. Portanto, se em sua família há os sinais do que irei retratar, apontarei também caminhos que podem ajudá-los antes que as drogas destruam o núcleo familiar.

O PERIGO NÃO ESTÁ NO TRAFICANTE, MAS NO AMIGO

Em um mundo cada vez mais corrido, é comum que o tempo de cuidado dos pais com seus filhos diminuam em decorrência dos compromissos de trabalho e outras tarefas, ficando aqui uma perigosa ponta solta.

Para alguns, existe uma rede de apoio e ‘proteção’ que contribuí nos cuidados dos filhos, como por exemplo, familiares disponíveis para monitorá-los e atividades extraescolares. Para outros, essa rede não existe. Mas em ambos os casos, as crianças e adolescentes diminuem o tempo com seus pais e aumentam com amigos, e é exatamente aqui que mora o perigo.

É fundamental que nos atentemos à rede de amigos e ambientes que nossos filhos frequentam, pois a entrada no mundo das drogas não ocorre diretamente por intervenção de um traficante, mas sim, por influência de amigos. Neste ponto um texto bíblico faz total sentido: “As más companhias corrompem os bons costumes”. 1 Coríntios 15:33.

Você realmente conhece as pessoas do círculo de convivência de seus filhos? Os ambientes que eles frequentam fora de sua presença? Conhece os pais de seus amiguinhos e amiguinhas do bairro ou escola? Tem o contato desses pais? Sabe onde eles moram? Com o que trabalham? Quais são seus hábitos? Quais valores nutrem?

Se as respostas forem cada vez mais negativas, é necessário acender o sinal de alerta, pois são os ambientes e amigos que oportunizarão diretamente o contato com as drogas. É com eles que experimentamos, seja nos fundos da escola, em uma viagem à praia, um passeio na praça do bairro, uma festa, um final de semana na casa de amigos, entre outras possibilidades.

A minha entrada nas drogas ocorreu exatamente dessa maneira, assim como a de todas as pessoas com quem eu me relacionei em períodos de uso.

No meu caso, foi em um churrasco no sítio de um amigo que iniciei na maconha. Naquele dia aceitei experimentar porque a maioria de nossos amigos que estavam nesse churrasco experimentou e entendi que não teria problemas maiores, que seria apenas uma experiência nova para mim e para a maioria dos amigos que assim como eu ainda não tinham usado. Foi tão divertido, que em consequência passei aos poucos a priorizar minhas amizades a partir da disposição do uso de drogas.

Por um bom tempo, ‘ninguém de minha família percebeu’. Desse modo, a estrada estava livre para intensificar o uso. Passei a experimentar outras drogas, ‘minha família não percebeu’… Meus comportamentos e hábitos foram mudando, mas ‘eles não perceberam’… Aumentei os riscos de uso, acumulei perdas, mas também ‘não perceberam’… Entrei no crack e já era tarde demais.

Na verdade, todos perceberam, mas não sabiam o que fazer. Meus comportamentos alteraram, tornei-me irresponsável, indisciplinado, larguei o esporte, interrompia todos os projetos que iniciava, abandonei os estudos, me afastei dos amigos ‘caretas’, entre outras perdas. Todas foram percebidas, sentidas e vividas por meus familiares, mas neste momento, eles não sabiam o que fazer.

Não há um manual de como lidar com um familiar em uso de drogas e ninguém quer encarar o fato de ter um filho dependente químico, por essa razão, as pontas ficam mais soltas, os familiares e o usuário ficam perdidos. Ninguém quer assumir, todos preferem negar! Ninguém ganha, todos perdem!

POR UM AMOR EXIGENTE

As drogas causam dor e trágicas consequências ao indivíduo que faz o uso, mas principalmente em sua família. A diferença é que os efeitos alucinógenos estão restritos a quem traga um baseado, cheira um pino de pó ou fuma uma pedra de crack. Assim, os gritos ensurdecedores são das mães, pais, irmãos, tios, avós e todos do núcleo familiar.

O que fazer quando se chega nessa fase extrema, quando o consumo de drogas tornou-se abusivo? Quando todos os limites e controles foram perdidos?

Insisto que não pretendo tornar esse artigo em um manual, mas almejo contribuir a partir de minha própria experiência. E justamente refletindo sobre minha trajetória e de minha família, que concluo, com assertividade, ser indispensável que a família busque, em primeiro lugar, ajuda profissional para si própria, pois só desse modo, encontrará equilíbrio, orientação e forças necessárias para sair da negação e intervir apropriadamente e imediatamente na ajuda efetiva de seu familiar usuário de drogas.

É necessário à família que o amor seja exigente e não negligente. Os hábitos precisam ser ressignificados, os limites reestabelecidos e a autoridade familiar restituída. Neste ponto, há grupos de apoio gratuitos exclusivamente direcionados às famílias com orientações de mútua ajuda e também de profissionais para orientá-los a lidar, tanto com as disfunções familiares, quanto com o dependente químico, suas respectivas manipulações, mentiras, indisciplinas, fugas e hábitos comuns de quem se encontra nas drogas.

Quanto ao usuário que chegou ao estágio avançado do uso, absolutamente nada faz sentido se não reconhecer que perdeu o controle, reconhecer os prejuízos que a droga está lhe causando, reconhecer sua impotência diante das drogas, reconhecer que sua vida se tornou uma droga. Essa auto aceitação é determinante, pois só a partir dela é dado o primeiro passo no processo de recuperação.

Para ambos, família e dependente químico, a fé é indispensável! A fé nutre a esperança de um recomeço. Pela fé, somente pela fé, encontrarão forças para persistir no tratamento e na ressignificação de suas vidas.

As possibilidades de sucesso no tratamento são consequências desse primeiro passo, que tanto o dependente químico quanto sua família precisam dar. De um lado, um amor exigente para a família. De outro, a admissão do usuário de que é impotente perante as drogas e que sua vida perdeu o controle. Para ambos, a fé.

Em consequência desses primeiros passos, as opções para a família e o dependente químico de se tratarem se tornarão claras, e poderão ser escolhidas com discernimento, serenidade e aconselhamento, considerando as realidades diversas e pessoais de cada família e dependente químico; seja em comunidades terapêuticas, clinicas, grupos de igrejas, de alcoólicos anônimos, narcóticos anônimos entre outros.

Mas para não perdermos o ponto de atenção, volto a insistir que a família não é culpada pelo uso de drogas de seu familiar, mas sim, não sabe como lidar com a situação e por não saber o que fazer, as drogas fazem morada e maximizam seus estragos. Atentar-se aos comportamentos, ambientes frequentados, alteração da rotina e grupos de amigos é fundamental e urgente.

Encerro com uma reflexão da música Ilusão: “Pra aqueles que querem desistir da vida, porque não esperam mais nada dela, talvez seja ela, que espera algo de você”.

Podemos juntos, sempre juntos, somar forças para a recuperação. Sinta-se em liberdade de entrar em contato através do Instagram @felixromanos.

(Esse texto não reflete, necessariamente a opinião do HojeDiário.com)