O Natal é uma celebração cristã que rememora o nascimento de Jesus. Mais que uma festa, a data é um marco de uma ideia: a ideia do amor.
Jesus nasceu em Belém, na periferia da Judeia, em um contexto do domínio do Império Romano. Nasceu em uma família pobre, como a maioria dos brasileiros. Filho da Dona Maria e de Seu José, foi sem teto desde o nascimento, driblou a mortalidade infantil e, em decorrência do genocídio do Estado, se transformou em imigrante ao ir para o Egito junto com sua família fugindo da perseguição de Erodes, então governador da Judeia.
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Parte de sua vida é descrita nos textos conhecidos como Evangelhos, entretanto, temos um enorme hiato de sua caminhada terrena, pois os textos brevemente relatam sobre seu nascimento e a consequente descida para o Egito. Depois, há pequenos registros sobre sua infância, e a maior parte do que sabemos se concentra entre seus trinta e trinta e três anos.
O que sabemos sobre Jesus é resultado de apenas 3 anos de sua vida terrena, ou seja, considerando que ele viveu 33 e os textos se concentram, sobretudo, a partir de seus 30 anos, logo, o que sabemos representa apenas 10% de sua vida. Esses 10% são tão expressivos que mudaram de modo absoluto a história da humanidade.
O cristianismo é hoje a maior religião do mundo, com 28% de adeptos em relação à população mundial. Já no Brasil, segundo o Censo Demográfico de 2010, os cristãos representam 86% dos brasileiros, constituindo assim, uma sociedade majoritariamente cristã.
Diante da hegemonia cristã em nosso país, me pergunto se a ideia central que fundamenta o cristianismo é de fato vivida por todos aqueles que confessam a fé.
O nascimento de Jesus significa, sobretudo, o nascimento de uma ideia de transformação social, de luta contra as injustiças, defesa dos vulneráveis e um modo de se comportar no mundo.
Durante toda a sua trajetória terrena, não foram poucas as demonstrações de ensinamentos que instituíram o amor como o maior de seus mandamentos.
O amor de Cristo não deve ser reduzido a um sentimento romântico; é antes de tudo, um ato, uma bandeira de luta, uma forma de se comportar. O amor é uma condição de vida, um grito contra as injustiças, um sopro de esperança para os necessitados, um alento aos mais frágeis, um abraço para os desesperados.
O amor do Cristo é um virada de chave as percepções humanas, está acima de transformações políticas e econômicas e é revolucionário no sentido de causar impactos radicais nas estruturas vigentes.
O amor resgata a dignidade do ser, perdoa o imperdoável e se coloca na condição máxima de defesa da dignidade humana. A ideia que devemos celebrar no Natal é exatamente essa: a dimensão máxima do amor.
Entre a ceia, a mesa posta e as decorações, há algo muito maior: a ideia do amor.
Infelizmente, em face de condições adversas, muitos brasileiros e brasileiras encontram-se em situação de dependência química, muitos outros, em situação de rua e tais adversidades os impedem de estarem à mesa com seus familiares na ceia do Natal e tantos outros dias do ano. Muitos se abrigam nas marquises ou em bancos de praça, regiões de cracolândia ou nos centros das cidades e todos, absolutamente todos, carecem da tradução em suas vidas dessa ideia do amor.
Em uma sociedade majoritariamente cristã, o amor deve ser manifestado de modo visível em todas as relações sociais, entretanto, lamentavelmente, a confissão pública da fé não acompanha efetivas transformações sociais.
Pessoas em situação de rua, dependentes químicos, desabrigados, sem teto, pessoas em situação de cárcere, desempregados, doentes e todas as pessoas em condição de vulnerabilidade carecem desse amor como condição de atuação social, o amor como forma de se comportar no mundo, como manifestação de proteção aos vulneráveis, em defesa dos necessitados e em oposição a todas as manifestações de opressão, preconceitos, anulação, violência e intolerância.
Que consigamos nos embebedar da ideia do amor do Cristo de tal modo que seja possível que abracemos como nossos irmãos e irmãs aqueles que estão na compulsão das drogas. Que acolhamos como os nossos, aqueles que em face do alcoolismo e de outras drogas, saíram de suas casas e encontraram refúgio nas ruas e na dependência química.
Que façamos orações pelas as mães que têm seus filhos privados de liberdade; pelas viúvas que perderam seus companheiros; pelos pais que se entregam diuturnamente em dignidade para colocar o pão sobre a mesa; pelos filhos que intercedem para que seus pais rompam com o álcool e outras drogas; pelas famílias dos desabrigados, os sem teto, sem terra e todos aqueles que se encontram em condição de privação.
Que consigamos diminuir cada vez mais a nós mesmos e que a ideia do Cristo cresça em nós a cada dia. Que nossos pés consigam trilhar os caminhos da justiça e que nossos lábios confessem palavras de amor.
E que não nos esqueçamos que juntos, sempre juntos, podemos transformar qualquer realidade.
Excelente Natal a todos.
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)