Vivemos uma profunda ambiguidade. Por um lado, identificamos avanços em legislações, movimentos políticos e sociais e políticas públicas que apontam para a tolerância, diversidade e proteção de grupos vulneráveis na sociedade. Por outro, tais sinais parecem ser insuficientes diante da força do extremismo, do ódio, do racismo, da homofobia, da intolerância e da xenofobia.
No conservadorismo que marca o Brasil no tempo presente, a homofobia é responsável pela perversa violência que afeta a comunidade LGBTQIA+. O racismo estrutural continua ferindo os corpos e raptando a vida de negros e negras de nosso país. A intolerância religiosa, lamentavelmente, é responsável pelo distanciamento das pessoas que buscam nesses ambientes o amor e acolhimento e a força do machismo causa milhares de vítimas diariamente em nosso país.
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Entre avanços lentos e graduais e a força do extremismo, do julgamento e da intolerância, há o indivíduo localizado no interior dessa fronteira de tensão.
Em nosso país, ser dependente químico, negro ou negra, estrangeiro, sobretudo de país latinos, africanos e asiáticos, mulher, não heterossexual ou cristão, pressupõe uma luta diária pela sobrevivência. Uma luta de fato para manter-se vivo.
Há uma tensão permanente para se manter vivo, sem violências, em paz, respeitado, aceito e acolhido. Tal tensão é responsável por ferir, mutilar e anular os corpos, as crenças e a subjetividade de cada um. Esse cenário leva nossos irmãos e irmãs às condições mais extremas em defesa de suas vidas.
Quando o amor da família é anulado em consequência da orientação de gênero, o acolhimento negado em face do lugar de origem, o respeito e a dignidade subtraídos em consequência da cor da pele, a alegria e paz roubadas por conta da escolha da fé, e a humanidade das mulheres subtraída pela sua condição existencial, tais indivíduos vão manifestar em suas vidas e em seus corpos as perversas manifestações de anulação.
Lamentavelmente, o lar, lugar que deveria habitar o amor, habita a intolerância, o ódio e os preconceitos.
Quando as mulheres são objetificadas, seus corpos e existência são anulados, quando as ruas se tornam locais hostis, o trabalho vira ambiente de assédio e o lar o espaço da violência doméstica, as consequências serão absolutamente drásticas para a ideia de uma sociedade justa, fraterna e em defesa do bem comum.
Quando a orientação de gênero de um filho ou da filha não é aceita e a violência da homofobia se manifesta, muitos deixam a própria casa e buscam nas ruas a paz que não foi encontrada no interior da família.
Quando os nossos irmãos e irmãs estrangeiros são hostilizados e assassinados nas ruas, perdemos a condição de um povo fraterno e acolhedor.
A questão é que diante do caos estrutural de uma sociedade profundamente conservadora, violenta, preconceituosa e hostil, as drogas, para muitos, pode ser refúgio, e as ruas, o esconderijo.
Não estou descartando as demais condicionalidades que levam as pessoas ao ingresso das drogas, a dependência química e/ou a viver em condição de rua. Entretanto, quero primeiramente sinalizar que existe o abismo do caos que devemos enfrentar.
Todos devemos nos assumir!
Um dos princípios básicos da recuperação é assumir-se e aceitar ser um dependente químico, até porque quem não se aceita, não se recupera!
Portanto, fica registrado meu grito: às mulheres, assumam a luta contra o machismo. Ao dependente químico assuma sua condição de dependência. Aos negros, a permanente luta contra o racismo. Aos estrangeiros, a luta por respeito e dignidade.
Só assim criaremos a onda capaz de conscientizar a sociedade de assumir a urgente e necessária luta dessas bandeiras estruturantes para uma sociedade civilizada e realmente cristã!
Mas também, é necessário que a família (você), responda com toda franqueza: Você se assume como agressor, violento, xenófobo, racista e/ou homofóbico? Assume que tais possibilidades podem afetar diretamente a vida das demais pessoas, que essas crenças discriminatórias nada têm de cristãs? E inclusive potencializa o ingresso no mundo das drogas?
Como diz o velho ditado, pimenta no xx dos outros, é refresco…
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)