Uma importante pesquisa realizada por pesquisadores da Universidade Simon Fraser, no Canadá, apontou que os seres humanos são biologicamente “programados” para a preguiça. Mas o que isso significa na prática?
De modo geral, até nos esforçamos na realização de planos e projetos para mudança de nossos hábitos e realizações de nossos sonhos. Entretanto, em pouco tempo, os abandonamos e o conformismo conduz a nossa vida a uma rotina acomodada, confortável, sem que exijamos de nós mesmos mudanças estruturais em nosso cotidiano.
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Eu tornei comum o consumo compulsivo de drogas por 16 anos de minha vida, tornei comum as feridas em meus familiares e amigos, tornei comum uma vida desregrada, tornei comum uma rotina indisciplinada que corroeu boa parte de minha vida.
Entretanto, em um determinado momento, me dei conta que a virada de chave não dependeria de ninguém mais a não ser eu mesmo. Essa mudança de chave seria um incômodo constante diante da situação que eu vivia.
Para romper com o uso de drogas, viver uma vida plena, conquistar os sonhos que desejei em meu coração seria necessário disciplina mais do que o talento ou qualquer outra coisa! Disciplina que contraria qualquer preguiça, cansaço, mal estar, chuva, limites financeiros, físicos ou teóricos. A disciplina da dedicação, do esforço diário de ultrapassar os obstáculos e a própria “preguiça” da condição humana e seguir adiante.
Os leitores que me acompanham nessa coluna, sendo usuários, amigos ou familiares de dependentes químicos ou não, nutrem em seus corações desejos, sonhos e projetos para realização. Porém, a concretude exige antes de tudo a disciplina no foco, na renúncia e na execução do que tem que ser feito haja o que houver.
Não conseguiremos realizar nossos sonhos mantendo as mesmas crenças e atitudes. É necessário pagar o preço, (motivado ou não) e estar em constante estado de gratidão, mas ao mesmo tempo insatisfeito, ciente de que Deus tem uma vida abundante reservada para cada um de nós. Sejamos incomodados com tudo que nos aprisiona e nos limita.
Por muitos anos achei que minha maior vitória seria o abandono ao uso de drogas. Eu consegui e assim que a dependência química deixou de fazer parte de meu cotidiano, passei a sonhar mais, mais alto e com mais frequência. Porém, a realização de cada um desses sonhos exigiu e continua exigindo fé, força, foco, determinação, resiliência, conexões com pessoas que agregam e, sobretudo, a disciplina.
A DISCIPLINA QUE VENCE A DEPENDÊNCIA E CONDUZ AO SUCESSO
Jefferson Silva é um irmão que a recuperação me presenteou. Ex-usuário de crack e outras drogas acumulou muitos sofrimentos em decorrência do uso compulsivo de drogas. Após a morte de seus pais, o uso se intensificou e, como um golpe de boxe, sentiu seu corpo entregue ao caos.
Seu luto durou um ano e meio e foi vivido em companhia das drogas. Nesse período, abandonou o trabalho como personal trainer, vendeu (‘noiou’) sua academia e foi acometido por profunda depressão.
Em decorrência do profundo abismo que se encontrava, se internou por cinco meses em uma clínica de reabilitação. Entretanto, após a internação, um breve respiro de esperança, as drogas retornaram em menos de um mês de sua internação em uma recaída com uso compulsivo de crack.
Foi avassalador!
Sem os pais, sua base de proteção, as forças para vencer diminuíram, mas em um relacionamento após a saída da clínica, ele engravidou a companheira com quem se relacionava e uma nova bolsa de esperança surgia.
Entretanto, a esperança não foi mais forte que sua compulsão pelo crack e outras drogas; não foi mais forte que sua vida desregrada.
O uso de crack se intensificou, lhe tirando o contato com o filho, trabalhos, dinheiro. E ao se encontrar sem nada, foi morar na Cracolândia de São Paulo. Consequentemente foi preso.
O Jeff, como carinhosamente seus amigos o chamam hoje, era absolutamente desacreditado por qualquer estatísticas, e na velocidade de uma pitada na pedra, ele se afundava cada vez mais.
Mas foi justamente no presídio que o Jeff compreendeu a dimensão de seus problemas. Lá, se entregou ao autoconhecimento, aos valores dos doze passos de Narcóticos Anônimos e enraizou em sua identidade a luta diária para vencer as drogas e a disciplina como fundamento.
Ele teve na prisão o que chamamos de recuperação de despertar espiritual.
A disciplina é essa determinação que colocamos dentro de nós mesmos e que nos move em direção a realização de nossos projetos; é a força que nos faz seguir no foco, mesmo diante do cansaço, da privação da liberdade, do caos, do luto, da angústia, dos desafios e das inúmeras vontades de desistir.
A disciplina é a luz que conduz o Jeff para suas realizações, o farol que o ilumina para o caminho de seus sucessos e conquistas e a força que exige a perseverança.
Hoje o Jeff personifica o que é viver sob o fundamento da disciplina que elabora o autoconhecimento, ressignifica o trabalho e a própria vida e tem uma vontade indescritível e contagiante de vencer.
Hoje, o Jeff é empresário no ramo de academias. É conceituado como um dos principais profissionais do segmento em toda a região do Alto Tietê, atende centenas de pessoas que procuram vencer os limites do próprio corpo. É profissional destacável e criou um próprio conceito de treinamentos.
Para não recair, não permite que seu corpo e seu cérebro se acostumem, portanto, altera horários e intensidade de treinamentos, dedica tempo para leitura e meditação e fica em permanente estado de observação de si próprio.
Jeff venceu e vence diariamente. Em sua disciplina ele nos ensina que somos todos potencialmente capazes de chegar ao lugar que desejamos, independente de onde viemos, se estivermos dispostos a renunciar e focar na disciplina absoluta da perseverança.
O Jeff foi um dos 14 protagonistas selecionados em todo Brasil para participar o projeto do livro ‘Provas de Amor, histórias de esperança na luta contra as drogas’.
Gratidão ao Jeff por nos ensinar que, quando queremos algo de verdade, não importando o que seja nem de onde estamos partindo, se realmente queremos, com disciplina conseguiremos!
Felix Romanos
Instagram: @felixromanos
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)