“Preconceitos x Recuperação”, por Felix Romanos

O Brasil se constituiu ao longo dos séculos em profundas raízes de violência, anulação e preconceitos. No tempo presente, lamentavelmente, somos testemunhas oculares da força do preconceito no cotidiano.

Essa força brutal atua em áreas diversas, seja o preconceito racial, de gênero, classe, a perversa prática da gordofobia, transfobia, preconceito religioso e tantas outras manifestações que se multiplicam no dia a dia dos brasileiros.

Motivados por uma falsa e cruel ideia de superioridade e poder, os atores promotores dos preconceitos anulam e diminuem a existência de outros, motivados por ódio, anulação e crueldade.

Já as vítimas das diversas manifestações preconceituosas desenvolvem em suas trajetórias habilidades de resiliência para enfrentar um cotidiano tão hostil.

No tocante a dependência química, como se não bastasse tantos outros desafios, o preconceito é uma lamentável realidade que o usuário deve enfrentar para superar a sua doença. Para aqueles que estão em situação de rua e em cenas de uso, o problema do preconceito aumenta ainda mais, pois, anulados de humanidade, tornam-se invisíveis sociais, desse modo, sua doença, angústias e medos são também anulados, e sozinhos, procuram os caminhos de rupturas e talvez, continuidade com as drogas.

É urgente que mudemos a forma que enxergamos os dependentes químicos, pois são seres humanos, pessoas que sonham, desejam, pensam e sentem o mundo. São, antes de usuários, humanos, e na condição de dependentes compulsivos de drogas, doentes.

Encarar a dependência química como doença é a urgência do momento, pois ao tratar de doença, torna-se necessário o acompanhamento médico especializado e não anulação, preconceito e ódio. O tratamento é médico e não de subjugação social!

Vencer a doença é um drama particular de cada dependente químico, cada um carrega sua própria cruz em busca da sobriedade. Mas o caminho pode ser menor, se acompanhado de tratamento médico especializado, acolhimento e amor. Mas certamente será maior se acompanhado de preconceitos, anulação e ódio.

Não conhecer os efeitos e impactos da dependência química é compreensível, mas optar pela anulação e preconceitos é uma escolha. Se você escolheu esse lado, quero que saiba que eu escolhi o caminho da tolerância, acolhimento, afeto e amor.

Eu escolhi o amor!

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)