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“Um grito por justiça”, por Felix Romanos

Na última quarta-feira (18/05), um morador em situação de rua, de 66 anos, morreu em decorrência do intenso frio registrado na cidade de São Paulo. Após passar a madrugada mais fria do ano nas ruas da cidade, Isaias foi até o núcleo de convivência São Martinho para receber um café da manhã, e ainda na fila, morreu em decorrência das baixas temperaturas.

O abrigo São Martinho é administrado pelo Centro Social Senhora do Bom Parto, mas não abriga pessoas em situação de rua, apenas oferece alimentação diária. Em busca de aquecer o corpo após passar a noite mais fria do ano nas ruas de São Paulo, Isaias faleceu na frente de seus colegas.

A cidade de São Paulo é a mais rica do país, a mais rica da América Latina e uma das mais ricas do mundo, mas suas contradições e abismos revelam uma cidade hostil, desigual e perigosa.

Muitos dependentes químicos estão em situação de rua e essa população é diuturnamente marginalizada. A eles, os adjetivos são empregados a ponto de se tornarem homens e mulheres matáveis, sujeitos sociais com absoluta invisibilidade, sem pertencimento a riqueza da cidade, muito menos a segurança de espaços nos dias mais frios do ano.

Morrer de frio é uma condição que choca uma sociedade que escolhe aqueles que devem morrer. Homens e mulheres que foram subtraídos de suas subjetividades e suas trajetórias reduzidas ao peso perverso do preconceito e do ódio.

Dependentes químicos e pessoas em situação de rua são antes de tudo seres humanos, completos de humanidade, de sonhos e de possibilidades, mas, reduzidos a invisíveis sociais. Nos dias frios de uma cidade rica, são privados de espaços de proteção, aquecimento, cuidado e amor.

Há diversas e louváveis iniciativas promovidas, ora por entidades religiosas, ora por indivíduos embebedados de amor, mas o poder público deve assumir a responsabilidade de ofertar ambientes de proteção, locais aquecidos, com alimentação e segurança para que essas pessoas possam ter um teto aquecido para dormir e um prato para comer.

Diante da morte de Isaias no último dia 18, o Padre Júlio Lancellotti, pertencente a Pastoral do Povo da Rua de São Paulo, caiu em lágrimas ao ver um irmão em condição de rua falecer diante do frio.

As lágrimas do Padre Júlio são de revolta das contradições de uma cidade rica que marginaliza os mais pobres. Tais contradições e revolta do Padre Júlio devem servir de estímulo para que cada um de nós consiga marchar com gritos ensurdecedores até o caminho da justiça.

Que consigamos nos sensibilizar pelas pessoas mais vulneráveis, que façamos ações efetivas para ajudar aqueles que mais precisam e que cobremos iniciativas propositivas do poder público para que ninguém morra de fome, de frio, ou vítima das mazelas sociais que afetam nossa sociedade.

Que nosso grito seja por justiça e que nossas lágrimas sejam de alegria, não de dor!

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)