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“Não é tão simples dizer não!”, por Felix Romanos

A dependência química é uma doença que compromete diversos aspectos da vida de quem faz uso compulsivo de drogas. Para as pessoas nessa situação, a ruptura ao uso de drogas não é uma tarefa simples, tampouco motivada exclusivamente da escolha individual do usuário. Enquanto doença, ela requer tratamento, autocuidado e a busca por profissionais qualificados. Portanto, a escolha voluntária pelo fim do uso de drogas requer acompanhamento multiprofissional.

​Durante 16 anos realizei uso compulsivo de crack e outras substâncias ilícitas. Desde o início nutria a vontade de parar, pois sabia dos riscos da continuidade com o uso, porém, encontrava-me impotente diante da força avassaladora da compulsão, ao mesmo tempo que situações diversas me impediram de romper com o uso da droga.

​Digo isso porque enquanto o dependente e seus familiares não encararem o fato de que o uso compulsivo de drogas é resultado de uma doença, a ruptura será apenas uma idealização e não um fato. É necessário que reconheçamos os nossos limites e compreender que ela nos impede de, sozinhos, reunir forças para romper com o uso.

​O senso comum de que o dependente químico é alguém imoral não ajuda, ao contrário, atrapalha muito. Atrapalha porque quanto mais se estabelece uma régua moral para a patologia, mais a recuperação torna-se distante, pois a superação não é e nem será resultado de uma condição moral, mas sim de acompanhamento médico especializado.

​Muitos jovens iniciam o uso de drogas por influência de amigos, pela necessidade de pertencimento a um grupo social ou por outras questões diversas. Entretanto a experimentação, ou uso esporádico, não significa necessariamente o desenvolvimento da dependência química. Há pessoas que fazem uso de álcool e não são alcoolistas, outras, consomem tabaco em situações específicas e não são tabagistas, o mesmo ocorre com o uso de drogas ilícitas.

​No caso de drogas ilícitas, há pessoas que fazem consumo de maconha e/ou cocaína em condições específicas, entretanto, não se tornam dependentes. Por tal razão, é necessário apresentar que a condição de dependência está associada a um perfil específico de usuário, onde questões psicológicas, sociais, neurológicas e outras contribuem para o desenvolvimento da dependência química. Conhecer a singularidade de cada individuo e sua trajetória entre consumo e dependência é fundamental para desmistificar elementos que se sobrepõe ao debate sobre as drogas.

Romper com o uso está condicionada a subjetividade de cada indivíduo. Desse modo, não é possível defender uma fórmula específica para condições gerais, pois somos sujeitos singulares, logo o tratamento à doença também torna-se singular, ou seja, não depende apenas de força de vontade ou de uma fórmula que é aplicada a todos, tampouco a uma receita pronta em formato de fast-food, mas sim de esforços multidimensionais.

​Militar sobre a pauta da dependência química pressupõe compromisso ético com o que abordamos e como defendemos determinadas posições, significa aprofundamento teórico, gastar tempo em leitura, diálogo com pesquisadores e intercâmbios com propostas distintas.

​Meu compromisso em discutir a dependência química e a recuperação é resultado de minha experiência pessoal com as drogas, somado a vontade em contribuir para as famílias que vivem os dramas das drogas em seus lares. Por tal razão, ofereço os ombros para que choremos juntos, os passos para que caminhemos juntos, os olhos para que juntos possamos ler e a fé para que juntos possamos superar.

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)