A conduta da equipe do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) envolvida no atendimento a Manoel Ferreira da Silva Neto, de 33 anos, montador de móveis que foi encontrado morto após sofrer um acidente de moto em Mogi das Cruzes, foi classificada como “inaceitável” e “totalmente fora dos protocolos” por um socorrista experiente da própria corporação.
Com mais de uma década de atuação na área, ele falou com exclusividade ao portal Hoje Diário e expressou profunda indignação com a postura adotada pelos colegas.
“Aquele atendimento foi um absurdo. Abandonaram o paciente. Isso nunca poderia ter acontecido. Foi uma conduta criminosa. O mínimo era imobilizar e levar ao hospital de referência. Não se levanta uma vítima com sinais de trauma e a larga na rua como fizeram”, afirmou.
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A fala do socorrista, que preferiu não se identificar, reforça a denúncia feita pela viúva da vítima, Nicole Paião, que alega que Manoel foi deixado desorientado em uma avenida deserta após o primeiro contato com a equipe do SAMU. Horas depois, ele foi encontrado morto no local.
De acordo com o profissional, mesmo que houvesse suspeita de embriaguez, o estado clínico do paciente indicava a necessidade de encaminhamento imediato para atendimento hospitalar.
“Ele estava desorientado. Isso já mostra que havia comprometimento neurológico, provavelmente em decorrência do trauma. Levantar ele e deixá-lo sozinho é algo que jamais faria parte de um protocolo sério”, disse.
O socorrista explicou que o procedimento padrão, diante de um acidente como o relatado, é o uso de prancha rígida, colar cervical, imobilização e transporte direto para o hospital de referência em traumas, o Hospital Luzia de Pinho Melo, localizado em Mogi das Cruzes.
“Mesmo que ele não sobrevivesse, teria recebido o primeiro atendimento digno. O que fizeram foi abandono. E isso nos revolta porque atinge todos nós que fazemos o trabalho com seriedade”, afirma.
Ele ainda destacou que casos como esse prejudicam a imagem de toda a instituição.
“A população não diferencia uma equipe da outra. Quando acontece um erro grave, todos os socorristas passam a ser vistos como negligentes. É injusto. Trabalhamos com vidas”, disse.
A fala do profissional é respaldada pela revolta expressa por Nicole. Em entrevista anterior ao Hoje Diário, mostrou revolta sobre a situação.
“O SAMU matou meu marido. Ele precisava de ajuda. Eles o levaram para morrer no meio do nada”, disse.
O caso está sob investigação da Polícia Civil. O consórcio regional CRESAMU (Consórcio Regional de Saúde do Alto Tietê), responsável pela gestão do SAMU em Mogi das Cruzes e outros municípios do Alto Tietê, informou que a equipe envolvida foi afastada e que apurações internas estão em andamento. O atendimento é operado pelo Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde (INTS), organização social contratada para esse fim.
Entenda o caso
Na madrugada do último dia 10 de maio, Manoel Ferreira da Silva Neto sofreu um acidente de moto em Mogi das Cruzes. A equipe do SAMU foi acionada e realizou o primeiro atendimento, mas — conforme imagens e depoimentos — deixou o paciente desorientado a cerca de 3 quilômetros do local do acidente, na avenida Anchieta, sem encaminhá-lo ao hospital.
Horas depois, Manoel foi encontrado morto no mesmo local onde havia sido deixado. A viúva, Nicole Paião, denuncia negligência e abandono por parte da equipe. A Polícia Civil investiga o caso como possível omissão de socorro, e o consórcio responsável pela gestão do SAMU afastou os profissionais envolvidos enquanto apura os fatos.