O recente caso de uma jovem de 27 anos diagnosticada com câncer após anos de uso contínuo de cigarro eletrônico, o famoso “vape”, e a morte de Diego, filho do ex-jogador do Milan, Serginho, aos 20 anos, em agosto do ano passado, reacenderam o debate sobre os perigos dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs). Embora a relação entre o uso prolongado desses dispositivos e o desenvolvimento de doenças graves, como o câncer, ainda esteja sendo estudada, especialistas da área da saúde já manifestam grande preocupação.
O médico oncologista Doutor Jorge Abissamra Filho, atuante em Suzano e em São Paulo, acompanha com atenção o avanço desse hábito entre adolescentes e jovens adultos e faz um alerta.
“O principal risco é que os cigarros eletrônicos não são inofensivos. Mesmo com aparência moderna e sabores atrativos, eles expõem o usuário a substâncias químicas irritantes, metais pesados e, muitas vezes, à nicotina, que é altamente viciante. Nos jovens, isso pode comprometer o desenvolvimento cerebral, aumentar a chance de dependência e abrir a porta para o uso de outros produtos de tabaco”, disse.
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Segundo o especialista, um dos maiores perigos está na falsa sensação de segurança promovida pela estética tecnológica e pelos sabores artificiais.
“Mesmo dispositivos que dizem não conter nicotina oferecem riscos. Muitos estudos já mostraram que líquidos ‘sem nicotina’ podem conter traços da substância. Além disso, os aerossóis liberados contêm partículas ultrafinas, solventes, aromatizantes e metais que, ao serem inalados, provocam inflamação das vias respiratórias e danos ao tecido pulmonar”, afirma.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), 16,8% dos adolescentes entre 13 e 17 anos já experimentaram o cigarro eletrônico. Embora ainda não haja estudos de longo prazo suficientes para comprovar uma relação direta, como no caso do cigarro tradicional, os indícios preocupam.
“Já sabemos que vários compostos presentes no vapor, como formaldeído, acroleína e metais pesados, são potencialmente carcinogênicos. A experiência com o cigarro convencional mostra que a exposição contínua a toxinas inaladas tende a aumentar o risco de câncer ao longo dos anos”, ressaltou.
No consultório, Doutor Jorge observa queixas frequentes relacionadas ao uso do vape.
“A principal é respiratória: tosse persistente, falta de ar, bronquite e agravamento de crises de asma. Também há casos de lesão pulmonar aguda associada ao uso de cigarro eletrônico (EVALI) e aumento de sintomas cardiovasculares, como palpitações e elevação da pressão arterial”, disse.
Desde 2009, o uso e a comercialização dos DEFs são proibidos no Brasil. A legislação foi reforçada recentemente pela Resolução RDC númeri 855/2024 da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que veta a propaganda, o transporte e o uso em ambientes fechados. Apesar disso, o comércio ilegal, especialmente pela internet, continua sendo um desafio.
“O Brasil foi um dos primeiros países a proibir a venda desses dispositivos, e isso é um avanço. Mas a lei precisa vir acompanhada de fiscalização rigorosa e campanhas educativas para surtir efeito. O mercado ilegal ainda é muito acessível”, declarou.
Para o oncologista, família e escola desempenham papel essencial na prevenção.
“A prevenção começa com informação. É fundamental conversar de forma clara e contínua sobre os riscos, sem tratar o assunto como tabu. Pais e educadores devem estar atentos a mudanças de comportamento e buscar orientação profissional quando necessário. Também é importante dar o exemplo, evitando o uso de qualquer produto de tabaco ou vaporizador”, disse.
Aos usuários, Doutor Jorge recomenda atenção a sinais de alerta.
“Tosse frequente, falta de ar, dor no peito, chiado, cansaço desproporcional e queda no desempenho físico são sinais de que algo não está bem. Diante de qualquer sintoma respiratório persistente, o indicado é interromper o uso imediatamente e procurar avaliação médica”, aconselhou.
Por fim, ele deixa um recado direto, especialmente aos mais jovens.
“O cigarro eletrônico não é um ‘atalho seguro’, nem uma brincadeira. É uma porta de entrada para a dependência química e para doenças graves. Cada tragada é uma mistura de substâncias nocivas entrando no seu organismo. Preservar a saúde agora é investir em qualidade de vida no futuro”, finalizou.
