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20 de novembro, Dia da Consciência Negra: conheça histórias de ascensão de mulheres negras na região do Alto Tietê

No mês em que celebramos a Consciência Negra, o portal Hoje Diário destaca como as mulheres negras, atravessadas por dupla discriminação, enfrentam barreiras no cotidiano, na educação, no trabalho, na renda e na ascensão social.
A reportagem conversou com duas mulheres negras, Marília Nicácio e Lívia Bolina, que são símbolo de ascensão na região e ajudam a mudar o cenário historicamente embranquecido do Alto Tietê.

Segundo dados do Censo 2022, último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 48 mil pessoas da região não são alfabetizadas. Dentro desse número, 12.344 são mulheres pardas.
Apesar dos números alarmantes, essas mulheres buscam transformar o cenário de preconceito e desigualdade por meio da educação, representatividade, luta e políticas públicas.

Segundo Marília Nicácio, Miss Suzano, administradora, psicopedagoga, bailarina e professora de dança do ventre, sua trajetória de 37 anos é marcada pela busca constante por representatividade. “Eu fui eleita símbolo de representatividade e empoderamento na cidade de Suzano. Esse momento, para mim, foi incrível. Enquanto mulher preta, acredito que nós precisamos nos ver representadas, nos sentirmos representadas e poder representar as mulheres pretas e da periferia, que é de onde eu venho. Para mim é muito gratificante, porque acredito que posso inspirar outras mulheres, outras meninas, a sonharem e a serem o que elas quiserem”, afirmou.

A Miss também fala sobre a desvalorização do corpo negro, especialmente das mulheres. “Mulheres pretas muitas vezes não são vistas como mulheres bonitas, mulheres para casar, mulheres para ocupar espaços de poder. E eu quero ser uma ponte, ser um espelho para essas mulheres, para que elas possam ver que elas também podem. Elas podem ser Miss, podem ser bailarinas, podem estar ocupando um lugar de poder, numa cadeira de diretora, numa empresa”, acrescentou.

Para Marília, o mês da Consciência Negra é um lembrete necessário, porém insuficiente.
“A Consciência Negra, para mim, é apenas um lembrete para a sociedade, para as pessoas brancas, de que nós existimos e resistimos. Acredito que essa consciência não deveria ocorrer apenas no mês de novembro, ela deveria existir o ano inteiro, todos os dias. É um mês para que façamos uma reflexão sobre as desigualdades sociais, sobre a luta contra o racismo, mas essa luta e essa reflexão precisam existir todos os dias do ano.”

Questionada sobre o que falta para tornar a escola um espaço realmente inclusivo para meninas negras, Marília destaca que o problema é estrutural. “Eu acredito que não é apenas a questão da escola, é toda uma estrutura. Muitas vezes, as meninas pardas são analfabetas não porque simplesmente não frequentam a escola, mas porque vivem condições sociais em que precisam trabalhar muito cedo. E aí, ou ela trabalha ou vai para a escola”, explicou.

Por fim, Marília deixa uma mensagem para as meninas negras do Alto Tietê que sonham em ocupar espaços de destaque. “Estudem, porque o conhecimento liberta! Conheçam a sua história, cuidem da saúde mental e tenham coragem. Não se deixem intimidar pelos padrões impostos pela sociedade, que querem nos ver em lugares de subalternidade e submissão. Sejam corajosas sempre. E, se você não se vê representada nos espaços onde quer estar, seja você essa representatividade”, finalizou.

Outro destaque é Lívia Bonina, secretária da Mulher de Mogi das Cruzes e empreendedora no segmento da educação, que também conversou com o portal Hoje Diário sobre sua trajetória, o papel da educação, as ações institucionais do município e a importância do Mês da Consciência Negra.

A secretária também comentou sobre o convite para assumir a Secretaria da Mulher. “Eu recebi o convite no último ano, e para mim foi uma novidade importante para Mogi das Cruzes. Assumir essa pasta foi uma grande responsabilidade, porque envolve políticas públicas essenciais para a ascensão social e profissional das mulheres, especialmente as mulheres negras”, afirmou.

Lívia reforçou ainda que a educação tem papel decisivo na transformação social, especialmente no aspecto racial. “A educação é fundamental como ferramenta para mudar a vida de qualquer pessoa. Eu mesma sou resultado disso. As oportunidades que eu tive eram iguais às das pessoas ao meu redor, e foi a educação que estruturou a minha trajetória”, declarou.

Ao tratar de questões raciais no ambiente escolar, Lívia pontuou que o debate se tornou mais presente e mais bem estruturado.
“Hoje o combate ao racismo está muito mais bem colocado e organizado, tanto politicamente quanto historicamente. Isso é essencial, porque por muito tempo esse tema não era tratado nas escolas como deveria.”

Ela também relembrou o racismo estrutural presente nos comportamentos sociais.
“Por muito tempo ainda se acreditava em ideias como a de que o negro é mais forte ou que a mulher negra resiste mais à dor. Isso ainda acontece em muitos hospitais, onde mulheres negras recebem menos anestesia durante o parto. Essas questões precisam ser discutidas com seriedade”, alertou.

Lívia ressaltou também o impacto do racismo na saúde da população negra.
“As questões étnicas se refletem até nas condições de saúde. A hipertensão, por exemplo, tem impacto maior em mulheres negras, e alguns medicamentos usados para pacientes brancos simplesmente não fazem o mesmo efeito nelas. Tudo isso precisa ser visto com cuidado”, destacou.

Questionada sobre as ações da Secretaria da Mulher voltadas à população negra, ela destacou iniciativas constantes de formação, participação em fóruns e construção de políticas públicas que fortalecem a autonomia feminina.
“Temos ações importantes em vários eixos, e todas elas refletem o compromisso institucional da Prefeitura com as mulheres da cidade, incluindo as mulheres negras, que historicamente enfrentam mais desafios”, completou.

No encerramento, Lívia deixou uma mensagem para outras mulheres, especialmente as mulheres negras do Alto Tietê, que ainda encontram barreiras para ocupar espaços de destaque. “Acreditem em suas capacidades, competências e habilidades. Cada uma de nós carrega algo único, e é isso que vai fazer com que sigamos em frente. Ocupem seus espaços, porque vocês têm direito a eles”, concluiu.

Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal