Eu estava diante de alguém que parecia saber contar pacientemente os anos, os meses e os dias. Até as horas, os minutos e os segundos aparentemente não lhe escapavam! Sua paciência diante de praticamente tudo a mim era impressionante, ao mesmo tempo que para muitas outras pessoas era desesperadora, posto aguardarem uma atitude, qualquer que fosse, já que as coisas não deixariam de acontecer no compasso de espera do protagonista, e pareciam caminhar na direção irreversivelmente oposta.
Essa falsa certeza bastava para que muitas aportassem noutras paragens seguras de que encontravam terra firme. Um dia, tomado pela ansiedade, perguntei a ele se as pessoas em desespero diante da suposta falta de atitude não estavam de certa forma corretas, uma vez que a passagem do tempo deixa o passado cada dia mais distante.
Inclusive na capacidade da compreensão dos acontecimentos por parte das pessoas que veem se diluir nas brumas do tempo as lembranças envoltas pelos afetos. Ele me respondeu, sem nenhuma dúvida, que o tempo, sendo o guardião do passado, se encarrega de apresentá-lo a quem no futuro queira saber por que ele, afinal, chegou bem até aqui, apesar da brutalidade e da injustiça com que foi tratado. Mesmo assim fiquei aflito, pois, por que diabos alguém sente tanta confiança diante do que acredita quando uma parte da humanidade dá sinais de descrença? Ele me falou sobre a conversão.
Disse-me que ela acontece não porque a pessoa convertida antes ignorasse a direção para aonde agora segue, mas porque não conhecia a beleza e a profundidade daquele caminho e o quanto nele há de verdade. Para mudar de direção alguém precisa, acima de tudo, ser convencida pela verdade. E quando a verdade é posta, o caminho se abre dando passagem aos acontecimentos que doravante semearão o futuro. Paciência pode não ser apenas paciência, pode ser o acalanto que antecede a assombração dos incautos.
Aos que acreditam, reina a esperança dos que conhecem as luzes da justiça.
(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)
