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“Memento mori”, por Marcelo Candido

Há quem na vida se sinta corporalmente eterno! Despreza tudo o que aprendeu sobre a finitude. E, pior ainda, sente-se proprietário do destino alheio e atribui a outrem a morte como condição inevitável à sua própria permanência. Sente-se superior nesta e nas próximas gerações. Não houve ninguém melhor antes, tampouco haverá depois, pois o depois não existe a um imortal.

Este segue a linha continua e infinita e o tempo ele desconhece! Como jamais morrerá, manipula, oprime, rouba, vilipendia e defeca sobre quem quer que ouse atravessar seu caminho ou contrariá-lo. Faz pose de líder, porém, não passa de um canalha! Entrega sua melhor versão como sendo o inteiro teor de sua personalidade e, a rigor, esconde seus demônios sob o manto da santidade que diz encarnar.

Impressiona o quanto figuras assim identificadas escoram-se de forma imoral e indecente nas colunas das instituições religiosas para se relacionar com as pessoas, fazendo disso a enganação necessária para manter domesticadas aquelas que ela vê como súditas. Ao abusar da boa-fé alheia, trata de forma ameaçadora quem considera inferior, a fim de alcançar os objetivos mais torpes que habitam a fosso profundo de sua alma degenerada. Degenerada pelas ambições ocultas nos atos medíocres praticados a despeito de sua malsucedida história registrada em um passado recente.

Gente assim choca o ovo da serpente! É capaz de dar à luz não apenas a um animal portador da pior e letal substância que, uma vez inoculada, derruba até os maiores mamíferos sobre a Terra, mas também de fortalecer-se através do veneno. É imperioso não se deixar inocular!

O título desta coluna é uma expressão em latim muito apropriada para ser pronunciada diante de quem pensa que é imortal, porque nos lembra de que vamos todos morrer um dia. E o faz de forma contundente, influenciando ao longo da história diversas culturas ocidentais e orientais. Cada pessoa deveria ter essa sentença sempre ao alcance de seus pensamentos, para que não se esqueça de que a vida cessa. Não há poder que seja capaz de manter para sempre seja qual autoridade for, além do que, a morte não se dá apenas quando a vida acaba, mas, para muitos, também na interrupção de afazeres que pareciam jamais mudar de mãos.

Portanto, como nos ensinou o imperador romano Marco Aurélio, “não aja como se fosse viver dez mil anos. A morte paira sobre você.” Essas reflexões são muito relevantes, pois nos lembram sobre o quanto a vida é extraordinária e sobre o quanto é preciso dividir, da forma mais respeitosa e repleta de compaixão que possamos alcançar, esta experiência com quem está embarcado nessa mesma jornada. E é por isso que determinados valores são imprescindíveis para que nenhuma ilusão seja capaz de impedir que saibamos sempre caminhar da forma mais dedicada possível às boas causas que engrandecem nossas relações na qualidade de seres humanos.

A vida não é uma obra individual. E da morte, ninguém escapa. “Respice post te. Hominem te esse memento. Memento mori” – “Olhe ao seu redor. Não esqueça de que você é apenas um homem. Lembre-se de que um dia você vai morrer”.

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)