A estudante Ananda Vilela, de 28 anos, nascida em Suzano, e seus colegas Inês Borges (35), Jade Lôbo (26) e Nycolas (26), criaram uma vaquinha para arrecadar recursos para uma viagem aos Estados Unidos, representando o Brasil.
Eles foram aprovados para apresentarem painel na Universidade de Harvard, com o tema “Raça e Racismos nas Relações Internacionais”, no Segundo Encontro Continental de Estudos Afrolatinoamericanos, organizado pelo Instituto de Pesquisa Afrolatinoamericana (ALARI).
Segundo Vilela, o objetivo é apresentar trabalhos diferentes com perspectivas sobre o racismo em diversos pontos das relações sociais. Nycolas, por exemplo, terá como tema de seu trabalho.
“A operação do colonialismo na economia política do conhecimento: (re)pensando com Rivera Cusicanqui a estrutura universitária”, focando na educação nas universidades.
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Já a apresentação de Inês focará na relação do racismo com a situação dos refugiados na cidade de São Paulo. Enquanto o trabalho de Jade trata da imigração haitiana ao Brasil e como as relações internacionais ainda são regadas de racismo.
“Vamos apresentar trabalhos diferentes no painel Raça e Relações Internacionais, que será mediado por mim, como presidente da mesa. Cada um a partir da sua perspectiva e formação apresentará temáticas relacionadas à raça e racismo nas relações internacionais”, disse Ananda.
Ela é nascida em Suzano, estudando na Escola Estadual Batista Renzi. Saiu da cidade em 2014 para cursar Relações Internacionais na Universidade Federal da Integração Latino-Americana, em Foz do Iguaçu. Desde então tem desenvolvido seus estudos na área, com foco nos estudos sobre raça e racismo e descolonização da produção de conhecimento. Atualmente ela é doutoranda e mestre em Relações Internacionais pelo Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro.
“Eu fui criada em Suzano desde a infância, estudei a vida toda em escola pública e em 2014 tive a oportunidade de sair da cidade para estudar em uma universidade federal. Desde então busco a pesquisa como ponto de encontro entre a realidade social e a acadêmica, com foco em estudar e diminuir as desigualdades no nosso país”, detalha.
Para ela, a aprovação do painel foi uma grata surpresa, ainda mais por todas as dificuldades que passaram durante a produção das pesquisas.
“Foi uma surpresa ótima. A aprovação no painel foi um marco para a nossa trajetória como acadêmicos no Brasil. Nós sabemos os desafios que superamos para estar no espaço da universidade aqui no país e ser reconhecido fora dele é gratificante e emocionante. Sabemos que nossa produção acadêmica e nossas vivências dentro e fora da universidade tem muito a dizer e ficamos agradecidos pela possibilidade de sermos ouvidos”, contou.
Ananda ainda destaca que a participação no evento permite trazer uma visão periférica e particularmente brasileira para as discussões acerca do racismo.
“A participação no evento nos ajuda não só na visibilidade do nosso trabalho, mas, principalmente, em levar uma visão negra, brasileira, periférica para o centro do debate. Não é comum nas relações internacionais discussões sobre raça e racismo, estamos indo para apresentar novas possibilidades de produção de conhecimento dentro do campo”, explica.
Se tratando de qualificação, isso não falta a Ananda e nem aos seus colegas. Jade Lôbo é autora do livro: “Para Além da Imigração Haitiana: Racismo e Patriarcado como Sistema Internacional”, editora e coordenadora da Revista Odù: Contracolonialidade e Oralitura. Pesquisadora-escritora convidada pela Faculdade Direito da Oxford University: Border Criminologies Faculty of Law University of Oxford.
Nycolas é mestre em Relações Internacionais pelo IRI/PUC-Rio, sendo aprovado em primeiro lugar no processo seletivo realizado pela instituição em 2019. Bacharel com dignidade acadêmica em Relações Internacionais pelo IRID/UFRJ e autor do capítulo “Um Ensaio Impossível”, publicado no 3º volume do livro “Metodologia e Relações Internacionais: debates contemporâneos” da Editora PUC-Rio.
Por fim, Inês tem formação em Administração, é especialista em transformação digital e hoje atua em projetos de impacto social e é fundadora da D9656, que tem como foco o desenvolvimento da saúde suplementar. Ela também é Mestranda em Economia do Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul.
Mas os currículos extensos foram conquistados com muito suor e não sem muitos obstáculos. Mas a presença um dos outros durante todo o processo foi o que os motivou a continuar essa árdua caminhada.
“Somos quatro jovens com vivências e experiências similares, mas diferentes. Enquanto jovens negros adentrando a universidade, passamos por situações de racismo e negação da nossa presença neste espaço, negação do nosso conhecimento enquanto conhecimento válido. Pessoalmente, sair da casa dos meus pais e conhecer outros lugares sozinha foi um baque na minha vida, principalmente com a ansiedade presente no estar longe de casa. A entrada na faculdade foi meu maior desafio, mas vencido com a ajuda da minha família e amigos. Por isso é importante o suporte emocional de quem está perto da gente. Não vamos sozinhos estudar longe, vamos com o apoio dos nossos”, continua.
A luta contra o racismo se tornou cada vez mais presente em seus trabalhos e estudos, com o objetivo de incentivar a discussão a respeito do tema para que a exclusão social e acadêmica que cerca a população negra no Brasil. Para Ananda, a discussão sobre racismo ainda é pouco explorada no país.
“Nós temos no Brasil a maioria da população negra, população essa que é excluída dos processos de decisão de poder, tanto na vida política como um todo quanto na academia. Apesar das ações afirmativas virem para modificar a “cara” da sala de aula, muito ainda precisa ser feito. Precisamos ler autores negros, precisamos conhecer nossas histórias, construir memória positiva para além da escravidão. Pessoas negras estão construindo e reconstruindo o Brasil todos os dias. Então a busca é por sair do papel de objeto de pesquisa de outros e ser o sujeito das nossas pesquisas, da nossa construção de conhecimento”.
Esse é o principal objetivo ao ir para Havard, em Massachusetts, no Estados Unidos, é ampliar essa discussão e apresentar esse trabalho 100% brasileiro. Mas, para isso, Ananda e seus colegas precisam da ajuda financeira e criaram uma vaquinha para arrecadar o dinheiro necessário para financiar a viagem. “A vaquinha seria para custear nossa viagem para os Estados Unidos, com objetivo inicial de arrecadarmos R$ 60 mil para os quatro viajarem”. Até o momento, eles já arrecadaram cerca de R$ 11,5 mil.
Para contribuir com a vaquinha, basta acessar o link: https://abacashi.com/p/leve-quatro-jovens-negres-para-harvard. Também é possível contribuir pelo número de Inês Borges (21) 98942-8967. O número de Ananda para contato é (11) 97152-9229.
Por fim, a estudante ainda fez um incentivo a jovens que sonham em ter seus trabalhos, projetos e ideias espalhados por todo o Brasil e mundo.
“Eu fiz o Enem em 2013 e entrei na universidade em 2014 e meu ponto de partida foi aqui. Sempre fui muito dedicada nos estudos e, com bastante esforço e ajuda dos meus pais e familiares, pude sair daqui para conhecer outros lugares e a possibilidade de estudar. Hoje eu faço doutorado na PUC-Rio, me esforçando para reverberar o nosso olhar, negro, brasileiro, periférico, na condução das relações internacionais.
Então se tem uma sugestão que eu posso deixar é não desistam! Vai ter percalços e obstáculos, mas já chegamos até aqui e ainda temos muitos caminhos para trilhar, desbravar. A gente vai ocupando espaços e mostrando que também somos capazes de produzir conhecimento. O mundo é nosso e está esperando por a gente”, finalizou.
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