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“Será que Freud explica?”, por Marcelo Candido

Estamos há mais de um mês após a realização das eleições que confirmaram a vitória em segundo turno do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. Entretanto, uma ocorrência rara na democracia brasileira tem chamado atenção: o não reconhecimento do resultado eleitoral por parte de um grupo composto por autointitulados patriotas.

Ocorre que frações deste mesmo grupo escalaram em seus posicionamentos iniciais e passaram a exigir a imposição de um golpe militar que pudesse dissolver a vontade da maioria e transformar a república brasileira em um regime ditatorial nos moldes da experiência vivida no país entre os anos de 1964 e 1985. Ocorre que a natureza desta escalada antidemocrática tem base ilegal por ferir preceitos constitucionais, e por isso já poderia ter sido contida, não fosse a conivência de autoridades públicas aparelhando setores das instituições nacionais. Sem contar os agravantes decorrentes desses protestos que impedem o livre direito de ir e vir também assegurado na Constituição de 1988.

Para além das questões legais vale também observar o quanto há de patético em vários locais em que os protestos vêm ocorrendo. E mais, houve momentos que entrarão para o anedotário nacional em razão de terem sido tão engraçados – e perigosos –, como o incidente que gerou o imortal personagem “Patriota do Caminhão”. Aliás, algumas manifestações adquirem características tão nonsense que poderiam perfeitamente nos levar à tentação de produzir memes em escala industrial.

Porém, os vários registros que nos chegam sugerem a existência de algo maior do que apenas a luta em favor do que acreditam aquelas pessoas, pois estamos diante de um fenômeno de natureza patológica e isso, para uma sociedade, tem o condão de transformá-la a ponto de não mais conseguirmos conviver democraticamente em seu ambiente. Para barrar esse avanço notavelmente perigoso, é preciso entender as raízes do fenômeno. Como consequência, atos criminosos poderão ser enquadrados de forma mais precisa.

Primeiramente surge uma questão: o que leva tantas pessoas a acreditar em narrativas tão fantasiosas insustentáveis diante do menor exame? A resposta não pode ser negligenciada a ponto de classificarmos essas pessoas como loucas, como se fosse a loucura algo meramente associado a comportamentos não convencionais advindos de referências pouco aderentes ao modo padrão de se viver em sociedade. Sendo assim, vale lançar mão de uma teoria que vem sendo cada vez mais considerada para efeito de se compreender os afetos que movem os tais patriotas. Até porque não se trata de colocá-los à margem da sociedade e isolá-los como era feito no velho e anacrônico sistema manicomial que precisa ser cada vez mais rechaçado, embora parte substantiva desses mesmos patriotas ainda o defenda.

Para entender esse novo fenômeno em nosso universo político, recorreremos à “teoria da dissonância cognitiva” exposta em 1957. Entre os autores nos deixaremos guiar pelo pai da psicanálise, mas isso, só no próximo artigo, pois quem sabe Freud explica!

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)