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“O mar da história é agitado”, por Marcelo Candido

O último 8 de março será lembrado como o dia em que as eleições de 2022 de fato começaram. A anulação, pelo ministro do STF, de todas as condenações que pesavam contra o ex-presidente Lula, provocou uma reviravolta em meio a classe política brasileira e tem o condão de reprogramar algumas alianças que já se desenhavam. Isto porque o ex-presidente desperta as mais diferentes paixões e sua figura é capaz de atrair muitas atenções em torno dela.

Por conta desse acontecimento me lembrei do poema “E então, que quereis?” do russo Vladimir Maiakóvski. E a lembrança me veio na forma da música que o compositor João Bosco deu a esse grande poema. De tão apropriado, ele já figurou em vários momentos da história brasileira e eu sou apenas mais um a citá-lo. Então, vamos lá!

O país se arrasta sobre uma crise que alcançou a potência máxima quando uma intrincada correlação de forças políticas e circunstâncias históricas provocou um golpe contra a democracia por ocasião da farsa do impeachment sofrido pela presidente Dilma. Após o ocorrido, o Brasil mergulhou em um mar regressivo de medidas econômicas, políticas e sociais que fizeram afogar de forma pungente muito de tudo aquilo que o país pôde alcançar até então, principalmente em relação aos avanços na área social. E o mais grave de tudo isso foi o aparelhamento dos mecanismos da Justiça brasileira para que fosse cometida toda sorte de crimes contra a ordem democrática, principalmente por força da influência que tem uma toga no imaginário coletivo, sem que se perceba o esconderijo da falácia. É inegável que toda essa engenharia nos trouxe a esse estado de distopia marcado por um tipo de polarização patológica e por um negacionismo abjeto que muito mal vem fazendo ao Brasil.

De volta ao poema, seu título nos faz pensar sobre o campo das possibilidades, e a afirmação nele presente de que “o mar da história é agitado”, explica bem as reviravoltas que estão acontecendo. Amarrando com outra poesia do autor já citado, peço-lhes que “cubram-me com sorrisos, que eu, poeta, com flores, os bordarei na blusa amarela!” Quem sabe em breve essa cor volte a ser a cor indistinta do povo brasileiro e os pilares da democracia voltem a sustentar esta nação.

(Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)