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“Atenção aos pedidos silenciosos de ajuda”, por Felix Romanos

​A minha experiência pessoal com as drogas, somada as histórias de pessoas que tem me procurado a partir dos textos nessa coluna e aos relatos dos protagonistas de um livro que estou produzindo e será publicado no próximo mês, me permite realizar algumas inferências sobre os pedidos silenciosos de socorro dos usuários de drogas.

​Analisar os impactos da dependência química a partir do estágio avançado do uso é o caminho mais percorrido por aqueles que se colocam nesse debate, entretanto, quero convidá-los para que juntos possamos estar atentos aos primeiros pedidos de socorro, muitas vezes silenciosos.

​Em muitos casos, os pedidos de ajuda são silenciosos e não ficamos atentos a eles, pois não reconhecemos sinais de perigo, pois no imaginário social, os impactos maiores com as drogas estão ligados mais a situações extremas.

​Conheço relatos diversos de pedidos de ajuda tímidos, mas de uma enorme grandeza para quem o faz. Sem saber como se manifestar, é comum que o usuário peça companhia em períodos do dia, pois sabe que sozinho pode recorrer às drogas, mas sem manifestar explicitamente o motivo da companhia, os compromissos, as agendas e atividades diversas não nos permitem passar tempo com as pessoas.

​Devemos sempre nos perguntar porque alguém me ligou, mesmo sem uma razão aparente. Porque quer sempre estar em companhia? O que há por trás de uma ligação ou pedido de algumas horas juntos?

​Nem todos se comunicam verbalmente e, na dificuldade de serem compreendidos, acionam dispositivos para uso. Isso não pressupõe culpa de amigos e/ou familiares, mas acende um sinal de alerta.

​Diante de uma sociedade cada vez mais individualista, onde o coletivo é suprimido pela força do indivíduo, é necessário que pensemos sobre a necessidade de passar tempo com os amigos, familiares e as pessoas que amamos.

​Nas redes sociais, somos todos felizes e essa imagem ideal de prazer, realização e sucesso, em muitos casos, é irreal.

​E fora das redes sociais, como você de fato está? Como tem elaborado os fracassos da vida, os desafios cotidianos e a permanente pressão de uma sociedade individualizada?

​Quem de fato tem coragem de dizer que fracassou, recaiu e precisa de ajuda? Quem de verdade tem coragem de tirar a capa de Super-Homem e Mulher-Maravilha e se reconhecer vulnerável e dependente de ajuda?

​Diante da latente insensibilidade, os pedidos de ajuda ocorrem de modo silencioso e tímido e sem receber acolhimento, ajuda, atenção, companheirismo e compreensão, muitos ampliam sintomas de ansiedade, depressão, consumo de álcool e outras drogas.

​Quando de fato conseguimos enxergar o que está acontecendo e ouvir os pedidos de ajuda, a situação tende a estar mais grave e os impactos, em consequência dessa fase, são realmente mais duros.

​Que sejamos sensíveis e corajosos para tirarmos as capas e máscaras que nos prendem na falsa ilusão de permanente sucesso. Que nossos pedidos de ajuda sejam ouvidos, nossas dores sentidas e nossos dramas compreendidos, pois nada nos faz mais humano do que o acolhimento à condição humana.

​Se você encontra-se em situação de risco e não possui força ou coragem para gritar socorro, eu empresto a minha voz para que juntos, sempre juntos, façamos coro por dias melhores.

Felix Romanos

Instagram: @felixromanos

(Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiário.com)