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“Viagem no tempo”, por Marcelo Candido

Resolvi dar um pulo no passado a fim de contar ao meu pai o que aconteceu na política desde quando ele, inadvertidamente, resolveu dar um tempo deste mundo.

Não podia abrir muitas informações para não perturbar o fluxo temporal e o andamento de tudo o que viria. Escolhi o dia 25 de outubro de 2011 por ser uma data com a qual me identifico desde quando nasci.

Ele demonstrou certa surpresa por não ser comum me encontrar em uma data como aquela, porém, não percebeu que era o meu eu do futuro quem falava com ele. Tive a sensação de que ele estava mais jovem. Será que é porque cheguei com quase onze anos a mais? Ele me olhou com desconfiança, como a notar meu excesso de cabelos brancos – entre os que sobraram.

Independentemente disso e para não dar tempo para ele pensar, contei que Lula iria voltar a ser Presidente do Brasil naquela que foi sua sexta disputa pelo cargo. Como não poderia deixar de ser, ele alegou estar se sentindo confuso e desinformado e então me perguntou como foi o governo da Dilma para o qual ele próprio tanto se empenhou a fim de ver a primeira mulher na presidência da República.

Lula irá sucedê-la? – perguntou ele atento.

Ela foi reeleita, mas não concluiu seu segundo mandato por ter sofrido um golpe que envolveu o sistema judiciário, o Poder Legislativo e as grandes mídias corporativas. Michel Temer governou por dois anos com fama de golpista e depois passou a faixa a um deputado do chamado fundão do baixo-clero, Jair Bolsonaro.

Atônito diante de tanta impropriedade, ele indagou:

Esse não é aquele deputado ridículo que frequentava os programas sensacionalistas da TV aberta, tipo “Pânico” e “Super Pop”?

Como eu poderia explicar?

Mas antes de qualquer palavra, ele me disse que aquele deputado era racista, homofóbico, violento e detestava as mulheres! Eu acrescentei genocida e neofascista, concordando com ele.

Como pode?! – exclamou.

Para poupar-lhe de tanta desgraça resolvi dizer que o futuro ora descrito já estava às portas do passado, uma vez que com a terceira vitória do Lula o Brasil iria se recuperar.

Acha que eu iria falar do assassinato de Marielle Franco, das ilegalidades de Sérgio Moro – que meu pai nem chegou a conhecer -, da pandemia do Covid-19, do imbroxável, das rachadinhas, do Queiroz, dos 51 imóveis comprados com dinheiro vivo, das motociatas e das muitas vagabundagens presidenciais?

Aliviado e ainda mais confuso, já percebendo várias contradições temporais, ele apenas perguntou quem era o vice do Lula.

Suando frio lhe respondi que era o Geraldo Alckmin.

Alckmin?
É, ele mesmo. – respondi.
Como assim?
Consequência do golpe de 2016, pai, embora uns insistam não reconhecerem como tal. Respondi, meio contrariado, sem acrescentar o apoio de outros tucanos como o do ex-presidente FHC.

Então, veio a pergunta inevitável!

– Que dia é hoje filho?
– 25 de outubro. – respondi.
– Tá, mas de que ano?
– 2022… – escorregando no ano!
– 2022?!
– Sim, 2022. – insisti!
– Mas não estamos em 2011?
– Não pai! Eu é que vim até 2011, mas o ano que marca o calendário é 2022. Ou seja, estamos em 2011, só que não.

Ele permanecia com rosto cheio de dúvidas.

Ah, e outra coisa: você morreu em 2012, por isso não sabe de tantos acontecimentos de lá pra cá.

Nessa me senti sincero pra além do limite!

Incrédulo, ele colocou um fim na conversa afirmando que iria me deixar falando sozinho. Estava cansado de tanta previsão tresloucada e pediu pra eu parar de inventar histórias tão distópicas e que bebesse menos.

Como quem percebe um lapso ele voltou-se pra minha direção e, exasperado, perguntou:

– Como assim morri?
– Vai morrer, infelizmente… – revelei com o coração apertado!

Neste momento percebi a lambança que fiz ao viajar ao passado. Acho que estraguei tudo! No entanto, antes de voltar ao tempo presente e a fim de lhe dar algum conforto informei que voltaria após o mês de janeiro de 2023 para que ele se sentisse mais próximo da realidade que ajudou a construir ao longo de seus 70 anos vividos, e soubesse também de todas as coisas boas que aconteceram depois de 2012.

Diante da sua cara de espanto falei:

Viagem no tempo, pai, viagem no tempo! Foi isso que me trouxe até aqui. Quem me ajudou foi o gênio, bilionário, playboy e filantropo, Tony Stark, que, junto com os demais “Vingadores” também apoiou o Lula.
Vingadores???

Acordei molhado de tanto suor. Sentindo muita saudade, desejei loucamente cair direto em janeiro de 2023, ansioso por sonhar e ver meu pai novamente.

(Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do HojeDiario.com)