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28 de junho, Dia do Orgulho LGBTQIA+: conheça personalidades de cidades da região do Alto Tietê que lutam pela visibilidade da comunidade

Em 28 de junho, é celebrado o Dia do Orgulho LGBTQIAP+. Esta data celebra e reafirma mundialmente o sentimento de orgulho sobre as orientações a partir das rebeliões de Stonewall de 1969, nos Estados Unidos. O legado desses eventos é um lembrete de que a visibilidade e a luta são essenciais para a promoção da dignidade humana.

Nos últimos anos, essa luta tem gerado avanços significativos em diversas partes do mundo. Questões como autoaceitação, respeito à diversidade e direitos iguais têm sido colocadas em pauta com frequência, graças à coragem e persistência de ativistas e indivíduos que enfrentam diariamente o preconceito e a discriminação da sociedade em busca de espaço na política, cultura, educação, entre muitos outros. Por isso, há necessidade de reafirmar o compromisso com a inclusão, a justiça e o respeito mútuo nesta data.

Alexandra Braga

Em Mogi das Cruzes, identificada como menino ao nascer na década de 70, a pedagoga Alexandra Braga, de 46 anos, enfrentou desde pequena uma trajetória de preconceito, luta e discriminação. Atualmente, ela é ativista pela causa, criou o Fórum LGBT de Mogi das Cruzes e a Parada LGBT da cidade.

Alexandra conta que cresceu em um lar humilde e cristão. Durante a infância, se mostrava interessada nos itens femininos de sua mãe, como saltos e vestidos; segundo ela, havia um apoio dos familiares por acharem engraçado.
“Todos falavam para minha mãe que era coisa da idade, mas quando fiz 10 anos, começaram a dizer para os meus pais que aquilo era inadmissível. Eu queria entender por que algo que era engraçado se tornou proibido, algo que eu gostava de fazer e me sentia bem era julgado”, citou.

Segundo ela, a insatisfação em estar em um corpo que vestia roupas indesejáveis era ruim e começou a frequentar igrejas para se manter “masculina” e culpar demônios por sentir vontade de se vestir de forma feminina.

Sua mudança veio após um amigo convidá-la para uma boate gay. Naquele local, começou a se interessar pelas danças, pelas roupas que as pessoas usavam e principalmente, pela liberdade que tinha.
Ao decorrer das idas nas boates, Alexandra iniciou sua transição e posteriormente ingressou na prostituição.

Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% da população trans no Brasil tem a prostituição como fonte de renda. Esse indicador é causado por vários fatores, sendo o principal a dificuldade de ingressar no mercado formal de trabalho.

Nesse mesmo período de sua vida, Braga começou a se relacionar com seu marido Alex, com quem está há 25 anos, e o relacionamento ajudou-a a tomar outro rumo na vida.
“Depois que começamos a nos relacionar, ele me apoiou a voltar a estudar, pois eu não havia concluído a escola. Ele me apoiou a ingressar na universidade, e hoje sou formada em pedagogia, sou professora, psicopedagoga e estou cursando atualmente Serviço Social. Sou a primeira pessoa da minha família a ingressar no ensino superior”, disse.

“Sou ex-prostituta, me envolvi com pessoas erradas; mas com muito orgulho, levantei meu canudo!”, ressaltou.

Em 2000, entrou para o programa de redesignação de gênero do Hospital das Clínicas e, após diversas consultas e acompanhamento psicológico, realizou a operação em 2010, sendo a segunda mulher a realizá-la.
“No último dia da minha pós-graduação, fui internada para fazer a cirurgia; aquilo (a operação) reafirmou que eu era uma mulher digna e respeitada”, indagou.

Na cidade do Alto Tietê, Alexandra se tornou vice-presidente do Fórum Mogiano LGBT, é a fundadora da Parada do Orgulho LGBT de Mogi das Cruzes em 2018 e, atualmente, ela luta por direitos e políticas públicas de pessoas trans na cidade.

Lilian Carvalho

Em Suzano, a diretora de ensino Lilian Carvalho, de 43 anos, e de raízes nordestinas, se destaca por dedicar a vida à luta por um mundo mais justo. Atualmente, compõe a direção da Frente LGBTI+ de Suzano, além de ser co-organizadora da Parada LGBT de Suzano e Coordenadora Nacional de Paradas e Marchas da Aliança Nacional LGBT.

Nascida no bairro Vila Amorim, na cidade de Suzano, filha de Sueli, uma mulher que, segundo a filha, enfrentou discriminação nos anos 80 por se divorciar com dois filhos pequenos. A infância e adolescência de Lilian foram marcadas pelo convívio com mulheres trabalhadoras e pelo ambiente da escola pública.

Lilian conta como foi o momento em que se assumiu como homossexual para sua família e a reação de sua mãe.
“Eu me apaixonei pela primeira vez por uma mulher aos 21. Inicialmente, não foi um problema em relação à minha mãe, pois sempre tivemos uma relação muito boa, mas a família reagiu de uma forma preconceituosa. Ouvi coisas como ‘prefiro você morta do que lésbica’, sofri violência verbal”, finalizou a educadora.

Sobre preconceitos enfrentados durante sua vida, Lilian conta que teve uma situação que a marcou.
“Eu sofri discriminação em uma feira em 2018, durante a campanha de Bolsonaro. Enquanto passeava de mãos dadas com minha companheira, fomos confrontadas por um feirante que nos insultou, dizendo que deveríamos ser enjauladas e que Bolsonaro deveria acabar com ‘essa safadeza’. A situação toda gerou uma reação de apoio e confronto. Enfim, essa é uma situação que me marcou muito, porque fiquei com muito medo e me senti muito desrespeitada. Mesmo assim, não recuamos, mas foi uma situação complicada e violenta”, contou Lilian.

Sua trajetória profissional começou como professora na rede estadual de São Paulo, e foi neste local que se tornou militante pelos direitos LGBT e pela educação pública de qualidade. Foi neste momento que nasceu o coletivo “O PAVÃO”, em Suzano.
“Fiz questão de demonstrar publicamente na minha profissão, na educação, que é necessário debater e enfrentar essas questões. Desde cedo, coloquei isso como uma pauta de luta pessoal e pública”, relatou.

Ela também ressalta como é criar uma família em um contexto de sociedade preconceituosa. “Eu entendo que, desde 2018, viver a vida como uma pessoa LGBT significa exigir os mesmos direitos, como o direito de formar uma família, ter filhos, casar, compartilhar bens, guardar dinheiro junto, comprar imóveis juntos. Uma família neste contexto gera medo, mas é também a minha forma de existir, então tenho que enfrentar e existir”, disse.

Igor Leandro

Igor Leandro é homossexual e atualmente casado. Nascido na década de 90, é cantor, compositor, tarólogo e iniciou sua jornada musical aos 12 anos cantando na igreja evangélica onde a família frequentava. Aos 17 anos, começou a se interessar por homens, diferente de seus amigos heterossexuais.

Segundo o cantor, o processo de autoaceitação foi complexo, pois ele sentia culpa pelos seus sentimentos e desejos.
“Foi bem difícil inicialmente. Eu mesmo pensava que tudo era um grande erro, que eu era um pecador. Mas ao longo dos anos percebi que Deus me amava do mesmo jeito e eu precisava ser feliz, independentemente de qualquer fala, credo, ideologia ou escolha. Tinha a necessidade de amar a Deus e a mim em primeiro lugar”, explicou Leandro.

Em seu aniversário de 21 anos, Igor se assumiu para a família. Segundo ele, a decisão não foi fácil, mas foi bem acolhido pelo padrasto e pela mãe.

Um episódio de preconceito marcante em sua vida foi quando, antes de se assumir homossexual, impediram-no de cantar em uma igreja.
“Como disse inicialmente, iniciei minha carreira na Igreja. Eu e minha banda iríamos cantar em um culto, e o pastor começou a me destratar e me impediu de cantar com minha própria banda no culto. Mas compreendo que nosso país mata diariamente a comunidade e isso é algo pequeno perto de tantos casos graves de homofobia”, relatou o cantor.

O cantor reitera que seu maior desejo é o respeito na sociedade atual, que em sua maior parte é preconceituosa.
“Independentemente da sua orientação sexual, respeitar é o básico. A falta de respeito entre casais homossexuais é uma grande falha”, disse.

Para pessoas da comunidade que querem se assumir para a família, ele afirma a importância da coragem necessária e se orgulha de todos que enfrentam essa barreira para viver de uma forma mais feliz.

“Eu sempre digo que homens e mulheres da comunidade devem estar em todos os cargos e lugares possíveis, nos melhores empregos, entrando nos melhores restaurantes e nos mesmos lugares que os grandes pais e mães de família tradicional estão. Estude e se importe sempre com o seu bem-estar e daqueles que você ama”, finalizou.