Luta, resistência e educação. Estes são os principais pilares para a transformação social e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária racialmente. Neste dia 20 de novembro de 2024, pela primeira vez, o Dia da Consciência Negra é um feriado nacional, e o portal Hoje Diário abordará a importância da educação para a população negra.
Historicamente, os negros enfrentam processos de exclusão e desigualdade, mas a educação ganha um papel ainda mais relevante. Ela não apenas abre portas para oportunidades para esse grupo social, mas também contribui para o desenvolvimento do letramento racial, uma ferramenta essencial no combate ao racismo estrutural.
Como afirma a socióloga Djamila Ribeiro em seu livro O Pequeno Manual Antirracista, reconhecer o racismo é a melhor forma de combatê-lo.
Um elemento importante nessa jornada é a política de cotas, que existe há mais de duas décadas no Brasil. As cotas raciais e sociais foram instituídas para corrigir disparidades históricas e proporcionar maior igualdade no acesso ao ensino superior e ao mercado de trabalho.
Desde 2012, o Brasil conta com a Lei número 12.711/2012, que garante 50% das matrículas por curso e turno nas universidades federais e nos institutos federais a alunos oriundos integralmente do ensino público, seja em cursos regulares ou da educação de jovens e adultos. Dentro dessa porcentagem, há vagas destinadas a pessoas de minorias étnicas.
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Ao portal Hoje Diário, a jornalista, professora universitária e autora do livro Não. Ele não está, Maíra de Deus Brito esclareceu alguns pontos sobre as cotas e sua importância.
“Acredito que todas as cotas são importantes. Temos que entender que as ações afirmativas estão aí para alguma coisa, e sabemos que o ambiente acadêmico ainda é um local excludente. Precisamos de diversidade nesses espaços. No caso da população negra, vamos olhar para a quantidade de leis que estão no papel, de artifícios jurídicos que foram utilizados para dificultar a entrada de pessoas negras no sistema educacional; então, nada mais justo que uma reparação”, explicou.
De acordo com o Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população negra enfrenta desigualdades no acesso à educação no Brasil, que se estendem desde o ensino fundamental até o ensino superior. A taxa de negros com graduação completa entre os 18 e 24 anos foi de 19,3%, enquanto a de brancos foi de 36%, mesmo com a maior parte da população brasileira se autodeclarando parda, totalizando 45,3%.
“Cada dia que passa, as pessoas estão com menos argumentos para criticar cotas. Eu entendo que, no passado, muitos criticaram, mas os números comprovam que as pessoas estavam erradas. Os números mostram como há uma evasão nos estudos dos negros”, informa Maíra.
Maíra também destaca o papel da representatividade negra dentro da sala de aula na construção de uma sociedade mais igualitária.
“Eu acho essencial essa representatividade! Eu, como professora negra, ouvi de muitos alunos que era importante eu estar naquele local. ‘É muito bom, representativo, ter a senhora em sala de aula’. Então, às vezes, a matéria que eu aplico não tem a ver com questões raciais, mas só o fato de eu estar ali já conta muito!”, declarou a professora.
Sobre a educação ser uma ferramenta eficaz para combater o racismo estrutural no Brasil, Maíra ressaltou a relevância dessa prática.
“Eu acredito que a educação é uma das ferramentas para combater o racismo, não é a única, mas é uma delas. Com ela, vamos conseguir que as pessoas estejam em um lugar onde a competição seja mais justa no mercado de trabalho, além de focar no discurso do multiculturalismo, na diversidade, trazendo outras vozes para o debate. A educação é revolucionária! Pessoalmente, minha mãe, por exemplo, saiu da pobreza e entrou na classe média pelos estudos. Sem meritocracia, é claro, mas sem essa mudança de chave teria sido muito mais difícil.”, finalizou Brito.