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Casos de ameaça, violência doméstica e invasão a domicílio contra mulheres crescem no estado de São Paulo; Delegada de Suzano fala dos desafios

No mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher, os índices de violência contra elas em todo o estado de São Paulo são alarmantes.
Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) mostram que, apenas no mês de janeiro deste ano, foram registradas 8.705 ameaças, 291 casos de invasão de domicílio e 6.015 ocorrências de lesão corporal dolosa contra mulheres. Além disso, o número de feminicídios chegou a 22.

Os registros de estupro de vulnerável consumado também apresentaram aumento, passando de 840 para 924 no intervalo de um ano – um crescimento de 10% ao comparar janeiro de 2024 com janeiro de 2025.
Dando continuidade à série de reportagens especiais do Mês da Mulher, o portal Hoje Diário conversou com a delegada titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Suzano, Silmara Marcelino. Ela destacou os desafios enfrentados para se tornar delegada e a importância de denunciar casos de violência de gênero.

“Na verdade, não tive uma motivação específica para ingressar na Polícia Civil”, conta a delegada.
“Quando terminei o ensino médio, queria cursar uma faculdade, mas não tinha condições financeiras. Minha mãe pediu para uma tia avisar caso surgisse um concurso público. Foi assim que prestei e passei para o cargo de escrivã de polícia. Trabalhando, consegui custear minha faculdade de Direito e, depois de formada, fui aprovada no concurso para delegada de polícia. Inicialmente, atuei como plantonista em Poá e Itaquaquecetuba, até ser convidada para assumir a titularidade da DDM de Suzano, o que faço com grande satisfação”, relata.

Apesar da realização profissional, sua trajetória não foi isenta de desafios, especialmente pelo fato de ser mulher e negra em uma área historicamente dominada por homens.
Segundo a delegada, a violência contra a mulher se manifesta de diversas formas, sendo a física e a psicológica as mais recorrentes.
“A Lei Maria da Penha prevê cinco tipos de violência: física, moral, psicológica, patrimonial e sexual. Na DDM, lidamos diariamente com casos de lesão corporal, ameaça, injúria e perseguição”, informa.

Para garantir um atendimento humanizado, Silmara enfatiza que sua equipe trabalha para acolher as vítimas.
“Eu e minha equipe tentamos oferecer o melhor atendimento possível, sem julgamentos, compreendendo as vítimas e dando o acolhimento necessário a quem está fragilizada em razão da violência sofrida. Evitamos julgamentos desnecessários e sempre tratamos essas mulheres com respeito e educação”, explica.

Sobre as medidas protetivas e a Lei Maria da Penha, a delegada reforça que a efetividade delas depende da rápida notificação do agressor.
“A mulher que sofre violência precisa ter uma pessoa de confiança que possa ajudá-la, se necessário. Alguém que fique atenta para verificar se a vítima precisa de socorro e, em caso de necessidade, acione a polícia.
Se, por exemplo, a vítima sofrer violência física, ela deverá, se possível, acionar a Polícia Militar, buscar atendimento médico e, posteriormente, registrar a ocorrência. Vale destacar que, ao fazer o registro, ela recebe todas as orientações sobre as medidas protetivas. O pedido é encaminhado à Justiça e, após a decretação da medida, o autor será notificado. Caso descumpra a decisão, será preso. Por isso, a criação de Delegacias Especializadas, a possibilidade de registro de boletins de ocorrência online e a própria Lei Maria da Penha representam grandes avanços no combate à violência doméstica. Esses avanços vão se aprimorando de acordo com as necessidades”,
declara.

A delegada também destaca a importância da denúncia.
“Apesar de compreender a dificuldade individual de algumas mulheres para dar esse primeiro passo, ele precisa ser dado. Caso contrário, o ciclo da violência não será quebrado. Existem políticas públicas para acolher as vítimas, com profissionais preparados para esse atendimento. Tem uma frase da Maria da Penha que eu acho muito ilustrativa: ‘A vida começa quando a violência acaba’. É importante que a vítima saiba que não está sozinha, que existe uma rede de apoio para auxiliá-la”, ressalta.

Para um combate mais eficaz à violência contra a mulher, Silmara acredita que a mudança precisa ser cultural.
“Infelizmente, a violência contra a mulher ainda está enraizada na cultura machista. Por isso, essa cultura precisa ser transformada, com ações contínuas de conscientização, educação e informação. É necessário também um trabalho específico nas escolas para conscientizar as crianças, para que, no futuro, a violência diminua. Além disso, ações sociais com jovens e adolescentes, como palestras, esportes e lazer, podem contribuir para a redução da violência de um modo geral. A punição é importante, mas ocorre após a violência. Precisamos prevenir para que o ato violento não aconteça”, finaliza.

Em caso de denúncias, ligue 180 para a Central de Atendimento à Mulher ou acione o canal via chat no WhatsApp pelo número (61) 9610-0180. Em situações de emergência, a Polícia Militar deve ser contatada pelo 190.